terça-feira, 29 de maio de 2012

AUTISMO


PETIÇÃO INTERNACIONAL PELA ABORDAGEM CLÍNICA DO AUTISMO
Iniciativa do Institut Psychanalytique de l’Enfant
(Université Populaire Jacques-Lacan)
ASSINAR A PETIÇÃO ONLINE

AUTISMO


Um documentário “acústicoespantoso”
sobre o autismo
«Unes altres veus. Una mirada diferent sobre l’autisme»
Outras vozes. Um outro olhar sobre o autismo.
Um documentário de Iván Ruiz Acero.

Mais de duzentas pessoas se encontraram no último 3 de abril, no cinema Verdi em Barcelona, durante a pré-estreia do filme «Unes altres veus». Dirigido por nosso colega Iván Ruiz Acero, com Silvia Cortés Xarrié, o documentário conta com a participação de pais de crianças autistas e de psicanalistas europeus que trabalham na área. Um longo aplauso no fim da projeção testemunhou o impacto produzido pelo filme sobre os espectadores díspares reunidos neste evento. Em seguida, o filme será apresentado em diversos circuitos e diferentes línguas.
“Acústicoespantoso” é um neologismo que Albert, um jovem catalão diagnosticado com Asperger, encontrou, por meio de diversas linguagens, para qualificar este documentário. É Albert ele mesmo, em seu testemunho singular, que fará a função de fio de Ariane para seguir os desvios, caminhos e impasses que o documentário nos propõe para apresentar o que a psicanálise de orientação lacaniana pensa e faz hoje com os sujeitos diagnosticados de “Distúrbio do Espectro Autismo”. A mancha, visando a reparar, senão a fazer surgir, a dimensão singular do sujeito que se esconde atrás desse diagnóstico cada vez mais ambíguo na clínica contemporânea, poderia se apresentar como um labirinto. Mas basta deixar o lugar do saber para este sujeito suposto em seu silêncio e em sua linguagem fechada à compreensão dos outros e começar a retomar o fio que ele decidiu cortar em certo momento de sua experiência. Trata-se, com efeito, de um fio “acústico” em que o objeto-voz torna-se o nó principal. Trata-se de distorcer um novo uso da linguagem para ver que os efeitos mostram-se, assim, “espantosos” para o sujeito e seu entorno. “Acústicoespantoso” é então um bom nome para essas outras vozes que o documentário faz ressoar e argumentar diante do discurso psicanalítico quando se fazem questionamentos os mais desprezíveis.
Com efeito, quanto mais avançamos no campo da pesquisa sobre o autismo e sobre isto que as outras disciplinas tentam representar com este termo, menos sabemos o que ele designa, procurando modulá-lo atualmente por outros termos como “distúrbio” ou mesmo “espectro”. Não se trata de um problema “científico” em sua acepção habitual, mas do efeito da clínica em sua dissolução de categorias que se esforçam por representar a singularidade do sujeito que rejeitou certa relação com a palavra, mas recebe os efeitos desse recusa na linguagem. Se aderirmos a esta perspectiva, ficamos em uma opacidade territorial quanto à aproximação a este sujeito escondido nessa experiência insondável.
Isso pode ser tal e qual escutado no documentário: não sabemos o que é o autismo como categoria clínica, não há um sujeito autista idêntico a outro. Então é preferível partir da ignorância para tentar se orientar na singularidade de cada um e na invenção que ele está em vias de construir, por mias estranha que ela possa parecer ao senso comum. Esta invenção é feita, frequentemente, a partir de pequenas peças relevantes da linguagem com as quais o sujeito tenta se manter em sua relação impossível com o outro. Trata-se, então, de prestar atenção ao valor singular dessas peças – não de esmagá-las em um adestramento mais ou menos sistemático segundo os ideais normativos dos costumes –, para, assim, encontrar o fio com o qual podemos tentar ligar uma relação sintomática do sujeito ao outro.
É nesta posição que assistimos não somente os psicanalistas que interviram no documentário, mas, sobretudo os pais que contam os efeitos que eles e suas crianças vivenciaram durante o tratamento psicanalítico. Ao invés de assumir a posição de se culpar, atribuída hoje com tanta ignorância à psicanálise, um pai pode então contar a sua experiência difícil que consistiu, para ele, justamente em se separar de uma culpa que experimentou antes de encontrar a psicanálise, culpa com a qual antes ele tentava, durante tanto tempo, encontrar a causa de um real no interior do qual ele não podia orientar-se até agora na relação ao seu filho. Ou então o alívio de uma mãe que havia atravessado longas séries de consultas médicas e psicopedagógicas, acompanhada de pesados questionamentos e protocolos, sem obter esclarecimento algum, até a encontrar a psicanálise que escutou seus filhos como um “sujeito de direito”.
Ou ainda, Albert ele mesmo, testemunha de uma das coisas mais importantes que encontrou na psicanálise: que ele não possui somente esse distúrbio que designamos pelo nome de d’Asperger, mas, sobretudo este “caráter” que lhe torna absolutamente singular, o que o ajudou a descobrir um caminho em seu labirinto de silêncio e palavras.
Cabe a nós fazer com que também o grande público escute este “caráter” singular sobre o qual a psicanálise funda suas experiências em casa caso.

* * *
Podemos ressaltar a beleza das imagens, das montanhas, do som e da luz do documentário, realizado com grande cuidado e uma clara delicadeza.“Unes altres veus. Una mirada diferent sobre l’autisme” foi dirigido por Silvia Cortés Xarrié e Iván Ruiz Acero, apresentado por Teidees Audiovisual el’Associació Teadir, associação de pais e próximos de pessoas com Distúrbio do Espectro Autista. Produção: Marta Alonso.
O documentário conta com a participação dos seguintes psicanalistas: Begoña Ansorena, Enric Berenguer, Neus Carbonell, José Castillo, Antonio Di Ciaccia, Vima Coccoz, Daniel de León, Elisabeth Escayola, Pilar Foz, Marga Gibert, Cecilia Hoffman, Josep Maria Panés, Jean-Robert Rabanel, Félix Rueda, Alexandre Stevens, Gracia Viscasillas.

Podemos visitar o site : http://unesaltresveus.teidees.com/






Toda a parte mais inatingível de minha alma e que não me pertence - é
aquela que toca na minha fronteira com o que já não é eu, e à qual me dou. Toda
a minha ânsia tem sido esta proximidade inultrapassável e excessivamente
próxima. Sou mais aquilo que em mim não é.
E eis que a mão que eu segurava me abandonou. Não, não. Eu é que
larguei a mão porque agora tenho que ir sozinha.
Se eu conseguir voltar do reino da vida tornarei a pegar a tua mão, e a
beijarei grata porque ela me esperou, e esperou que meu caminho passasse, e
que eu voltasse magra, faminta e humilde: com fome apenas do pouco, com fome
apenas do menos.

In A Paixão Segundo GH. PÁG 123
Clarice Lispector

PIERRE-GILLES GUÉGUEN: LOCURAS DEL DSM A TRAVÉS DE LA PRENSA USA

El best-seller del mes de junio de 2013 no será un premio literario sino el DSM en su versión 5 (100 millones de dólares de beneficio con el DSM 4).
Suscita tantas críticas al otro lado del Atlántico como en Europa, y cada vez más acerbas, no solamente por parte de quienes se oponen al método sino también por parte de quienes le reprochan no ser suficientemente fiel a sus objetivos del supuesto rigor científico de la “evidence based medicine”. Instrumento fundamental para la regulación de la psiquiatría por los burócratas sanitarios, el DSM ha destruido ampliamente la disciplina a la que pretendía servir, y parece que esto no ha terminado. Muy pronto, si creemos a la prensa americana, dependeremos todos de la psiquiatría, es decir, que nadie estará a salvo de tener que tomar psicótropos. Es el envés de la versión de Lacan cuando afirma que “todo el mundo está loco, todo el mundo delira”.
Uno de los artículos recientes, el más pertinente y chocante, es del 14 de mayo en el Huffington Post. Se debe al profesor Allen Frances (Duke University) que tras haber formado parte del equipo que elaboró el DSM, alerta desde hace mucho tiempo contra las derivas que, según él, alejan las versiones sucesivas del proyecto inicial.
Este profesor se niega a asumir la idea avanzada por los autores del Manual según la cual este trabajo sería una serie de hipótesis científicas a testar y modificar continuamente. “Nuestros pacientes no son ratas de laboratorio” ha declarado.
Critica igualmente el número de hipótesis puramente especulativas que contiene el DSM de las que un gran número no serán jamás testadas, no responden además a la práctica clínica, y han surgido de tratamientos estadísticos demasiado complejos. A continuación se alza contra los expertos (162 en la actualidad) que son responsables de completar lo que el simple tratamiento estadístico no puede llegar a tratar. Según él los “expertos” viven en una torre de marfil y cada uno tiene sus manías.
Frances imputa la crítica que se hace en general a la nueva versión del DSM de tender a medicalizar la normalidad a la impericia de sus autores que, por ejemplo, se apoyan para ello en trabajos aún no publicados o todavía en estado de hipótesis.
El New York Times publica también varios artículos al respecto. Manifiestan inquietudes y críticas en todos los sentidos, como si los americanos hubieran comenzado a apercibirse del embrollo causado por este proyecto megalomaníaco y del la amenaza que representa para la salud pública.
Benedict Carey, periodista del New York Times, en un artículo con fecha de 8 de mayo pasado, observa que el panel de expertos contratado por la American Psychiatric Association ha renunciado a dos ítems: el “síndrome de psicosis atenuada” y el “trastorno mixto ansioso-depresivo”. El primero debido a que podía dar lugar a tratamientos arriesgados mediante psicótropos a niños y adolescentes, el segundo en razón de que, más o menos, psiquiatrizaría a cualquiera en la población de los USA. Señala también que la APA no ha retrocedido ante una nueva definición más restrictiva del autismo, muy criticada por cierto. El congreso de la APA celebrado hace dos semanas ha sido ocasión de muy vivos debates. Especialmente porque el DSM 5 tiende a eliminar los “Asperger” de la categoría del autismo. Este debate está ya en marcha desde febrero último.
El panel de expertos intenta también establecer mejor la distinción entre la tristeza normal (especialmente el duelo) y el episodio depresivo, pero como podía esperarse, se atascan en las diferencias no objetivables mediante la estadística.
También sobre la cuestión del autismo escribe el cronista del NYT Gary Greenberg (14 de mayo). La perspectiva de las críticas que desarrolla es más sociológica. Señala que la restricción de los diagnósticos de autismo tendrá como consecuencia una disminución de responsabilización por parte de los servicios sociales y, sobre todo, por parte de las aseguradoras que rechazarán asegurar los riesgos. Afirma con justicia que el DSM se ha convertido en un negocio que se ha establecido sobre la complicidad entre la medicina y la industria farmacéutica. No se ve con claridad por qué se siente obligado a zaherir, de paso, al psicoanálisis salvo que él apuesta por las neurociencias y los marcadores genéticos.
Citaremos ahora, con fecha del 14 de mayo en el diario neoyorquino, un artículo consagrado a la adicción de Ian Urbina. Se trata en este caso de la extensión premeditada de la categoría de trastorno adictivo, que tendría importantes consecuencias para las aseguradoras y los gastos generales de salud pública (Medicare y Medicaid) una cuestión muy sensible para el contribuyente y el ciudadano americano. En efecto, por primera vez la adicción al juego sería tenida en cuenta, así como un ítem de “adicciones no específicas”, lo que nos muestra la razón de Jacques-Alain Miller al hablar de adicción generalizada.
Hay una batalla muy intensa entre los psiquiatras que consideran que el problema más grave concierne a las enfermedades psiquiátricas no tratadas y los que militan a favor de una restricción de las categorías.
En lo que concierne al autismo las informaciones son contradictorias, para una parte el diagnóstico de autismo habría aumentado considerablemente (cf. La crónica de Éric Laurent: “Autismo epidemia o estado ordinario del sujeto” LQ 194), para la otra parte el DSM 5 cuestiona la calificación de trastorno y excluiría a una gran parte de los que hoy son diagnosticados de autistas. Un artículo de Casey Schwartz, colaboradora de Newsweek y del Daily Beast (20/01 2012) da cuenta de los embrollos respecto al cuestionamiento de la nomenclatura y el funcionamiento sesgado de los investigadores, repartidos entre el secreto y el sensacionalismo.
Como afirma la periodista: “Perder el diagnóstico tiene consecuencias desastrosas para las familias que dependen de la ayuda de los estados… desde las escuelas especializadas hasta la financiación de las terapias cognitivas y las ayudas a largo plazo (médicas y para alojamiento)”.
Hay una gran tensión en torno al objeto DSM, que continuará por lo menos hasta diciembre de 2012, fecha a partir de la que ya no se admitirán revisiones.
Se está desarrollando una gran batalla clasificatoria y de gestión, ¿pero dónde ha quedado la subjetividad de los pacientes?


Fuente: Lacan Cotidiano 209.
Traducción de Iñaki Viar.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

ÉRIC LAURENT: "LOS SOBRESALTOS DE LA CLÍNICA Y EL IMPASSE DEL NEUROMULTICULTURALISMO


Acaba de tener lugar, del 5 al 9 de mayo en Filadelfia, el Forum más concurrido sobre los debates en marcha en la clínica, con un nombre bien elegido. Se trata del 165º Congreso de la Asociación Americana de Psiquiatría. El título y la consigna del congreso eran: integración. Cómo integrar los cuidados psiquiátricos entre el generalista y el hospital en sentido amplio, en un sistema que conoce las dificultades de poner en relación la gestión privada de públicos diferenciados en las diferentes Health Maintenance Organisations, no integradas en un sistema de salud unificado. El sistema conoce también el exceso de prescripciones de psicotrópicos por los generalistas o la dificultad de integrar la psiquiatría civil y la militar en el tratamiento de los veteranos y sus síndromes post-traumáticos.
Un Congreso así representa 10.000 participantes, con profusión de todo: sesiones plenarias, talleres, mesas redondas, cursos, simposiums en el Congreso, invitados insignes, key-note speakers,miles de posters. Empezó por una conversación entre Aaron Beck profesor emérito de psiquiatría en Pensilvania y Glen O. Gabbard profesor de psiquiatría en el estado de Nueva York y en Texas, sobre los puntos de convergencia y de divergencia entre psicoterapias cognitivistas y psicodinámica. Precisemos: nada de slides, nada de texto, simplemente se habla, lujo supremo.
El programa tiene192 páginas, sin contar las que desgranan los cientos de posters. Comienza con 30 páginas de Disclosure Index, donde aquellos ponentes que tienen acciones o compromisos diversos con laboratorios farmacéuticos deben declararlos. También los ponentes que no tienen nada que declarar, tienen que declararlo explicitamente. El programa evoca todo aquello de lo que se habla en el campo de la psiquiatría. Es muy difícil orientarse en ese laberinto democrático donde sin embargo elpecking order jerárquico es muy estricto. En relación al psicoanálisis, es fácil, no hay más que una exposición en el índice del programa, titulada “Adolescencia y reorganización del desarrollo del niño: un modelo neuropsicoanalítico”. Para el conjunto y el resto es útil remitirse a los artículos especializados del New York Times y del Washington Post que, firmados por Benedict Carey y N. C. Aizenman resumen lo esencial.
Se ha hablado mucho en este Congreso de las consecuencias de la reorganización del campo clínico bajo la influencia del DSM 5 que será publicado en mayo de 2013, y de la importancia de esta reorganización sobre el “cuidado integrado”. El amo por venir no cesa de polarizar el campo desde ahora mismo. El comité de los 162 miembros encargado de finalizar el documento ha hecho pública su decisión estratégica y altamente política de renunciar a dos novedades que habían sido escandalosas.
Una era la nueva categoría de “riesgo de psicosis atenuada”. Se trataba de poder identificar a los jóvenes en riesgo de desarrollar más tarde una psicosis pesada por sufrir dalucinaciones ligeras o ideas delirantes. El gran riesgo era que se encontraran fuertemente medicados, al precio de efectos secundarios mal apreciados Las clasificaciones psiquiátricas no pueden darse el lujo de admitir las “psicosis ordinarias” porque habría que medicarlas de manera también ordinaria. También se ha renunciado al nuevo “trastorno ansiodepresivo mixto”, que abría el camino para recetar antidepresivos al conjunto de la población. No hay que creer que esas categorías son abandonadas, porque fueron propuestas por el sector de los biopsiquiatras más fundamentalistas. Se trata de aquellos que consideran que la patología es probablemente un vasto continuo donde los recortes de la “clínica” no son más que artificios retóricos infundados, y que más valdría distinguir grados de intensidad. Esas categorías serán pues colocadas en una categoría ad-hoc, la que aprendimos a conocer con la literatura de la HAS: “Trastornos que necesitan investigaciones ulteriores”. Sin embargo, es un fracaso del lobby de Big pharmaAllen J. Frances el presidente del comité que había puesto a punto el DSM 4, ahora a la cabeza del movimiento de oposición a las extensiones de los diagnósticos, se alegra de esta retirada pero subraya que aún hay cierto número de categorías susceptibles de provocar efectos perversos como el “trastorno neurocognitivo menor”, o la demasiado fácil aceptación de “la adicción”. Declara a Auzenman “Las implicaciones van más allá de todo lo que usted pueda imaginar... Añada un nuevo síntoma y de repente decenas de millones de personas que hasta ahora no tienen ningún diagnóstico se despiertan con él y serán bombardeadas con publicidad por la televisión para proponerles medicamentos... En lugar de controlar el problema, el DSM 5 abrirá los diques aún más”. El hecho de que estemos obligados a añadir un párrafo donde se precisa que la tristeza y los síntomas que acompañan una perdida significativa, tienen la apariencia de una depresión, pero no lo son, casi no reconforta.
Hay un punto donde el Comité DSM 5 ha tomado una decisión de reducción drástica, es sobre el autismo, proponiendo suprimir el “Síndrome de Asperger” así como el “trastorno generalizado del desarrollo” no especificado de otra forma. El alcance de esta decisión ha sido objeto de vivos debates. Un estudio de Yale considera que el número de autistas disminuirá a la mitad, mientras que otro estudio presentado durante el Congreso considera que no cambiará gran cosa de las cifras actuales. Como el diagnóstico es esencial para obtener el acceso a las prestaciones financiadas por los estados, el director del Centro de Estudios sobre el Niño de la facultad de medicina de Yale desea que la última hipótesis sea verdadera y que la situación permanezca estable, pero se pregunta entonces por qué tocar nada. No obstante, uno de los miembros del Comité DSM 5, del que ya relatamos algunas declaraciones en otra crónica, (“Autismo, Epidemia o estado ordinario del sujeto”, en LC nº 194 del 10 de abril) fue muy claro al respecto. Se trata de cambiar la definición para “atajar la epidemia de autismo”. Se deduce pues que no será fácil y dará lugar a reivindicaciones y debates ya previsibles.

Todo el Congreso de Psiquiatría ha estado pues atravesado por la tensión entre extensión y contención. Los neurocientíficos, despreocupados de los problemas clínicos y de todo con su objetivación de las variaciones neurológicas que afectan a los sujetos autistas, se desentienden encantados de los límites.
El artículo de Laurent Mottron publicado en el último número de « Cerveau et Psycho » es ejemplar.“Todo lo que sabemos hoy del autismo nos conduce a ver en él una organización cerebral diferente más bien que una enfermedad” y que “Es probable que el “espectro autista” ... represente una población considerable... un estudio coreano reciente demuestra que un individuo puede responder a los criterios comportamentales del autismo tal como los define la comunidad científica, siendo totalmente autónomo y sin que sus iguales noten nada. Ese sería el caso de más del dos por ciento de la población general, que se añade al uno por ciento para los que la diferencia es evidente. ¿Son “autistas” esos individuos? Sí, si les definimos por un comportamiento particular; no, si les definimos por una enfermedad”. Ya estamos pues en un 3 por ciento, un niño de cada 30, es decir, con la disimetría hombre/mujer, alrededor de un niño de cada 20. Esta “población considerable”, en esta perspectiva, debe ser acogida con su diferencia y tener acceso al saber según las vías que les son propias, de manera que se optimicen los desempeños de sus miembros. Solo entonces sabremos qué es el autismo, porque de momento “no sabemos como se comportarían los autistas si tuvieran acceso, desde su nacimiento, a la información adecuada” La comunidad autista es explícitamente comparada con la comunidad de esclavos de las plantaciones. Los estudios cognitivos han concluido durante mucho tiempo la supremacía de los pueblos occidentales, mientras que no se trataba más que de los efectos de exclusión del saber. No se trata de adaptar la comunidad autista a las maneras de vivir de la mayoría y de querer borrar la diferencia con tratamientos comportamentales artificiales- En la tradición canadiense del respeto a las comunidades, Mottron propone un neurocomunitarismo: “La demanda de adaptarse a un mundo mayoritario, fundado en una lógica de la mayoría, es una lógica guerrera, o electoralista. No debería concernir a las diferencias neurobiológicas que existen en la familia humana”. Se trata de encontrar el lugar apropiado para los miembros de esta comunidad. A Mottron no le gusta el psicoanálisis en absoluto y nunca deja pasar una ocasión de hacerlo saber, con una falta de matices digna de elogio. Sin embargo, la objeción psicoanalítica a la comunidad de los sujetos reunidos bajo una misma etiqueta debería interesarle. Lo que podemos decir de un sujeto de un tipo no es de gran utilidad para otro. Lo que se trata de apuntar no es la comunidad, es la particularidad. Esto es subrayado por practicantes del método TEACH, comoBernadette Rogé, Profesor en Toulouse-Le Mirail, entrevistado en Mediapart: debemos tener en cuenta la particularidad de los autistas: “su disponibilidad, su motivación, su funcionamiento particular en el plano sensorial, cognitivo, lo que requiere muchas adaptaciones” También en el “modelo de Denver”, en el que se combina el juego y el aprendizaje en una “interacción emocional positiva”, “se trabajan todos los ámbitos, lenguaje, adaptación, motricidad... de una manera mucho más natural y espontanea”. Más allá de la objeción por la singularidad el neurocomunitarismo encuentra un impasse por su vocación a extenderse sin demasiados límites a partir de rasgos de comportamiento, compartiendo un mismo disfuncionamiento neurológico no especificado, y que no haga síntoma.
En el mismo número de Cerveau et psycho, otro defensor de la desaparición de la clínica en provecho de las evaluaciones neurocientíficas, Franck Ramussueña con otra proliferación. Pone en su lugar la hybris del diputado Fasquelle que pretende legislar sobre los tratamientos del autismo. Va más lejos, clama por la creación de una “Agencia nacional de evaluación de las psicoterapias” apoyándose en el argumento bien conocido desde la Enmienda Accoyer: el vacio jurídico. “Los tratamientos no farmacéuticos no son objeto de ninguna evaluación obligatoria, y son colocados en el mercado sin ningún control”. Se ve muy bien cómo vêla por que se prescriban todo tipo de obligaciones, se establezcan listas de tratamientos validados, con actualizaciones, puestas al día, con una competencia sobre todo el campo psíquico. Una verdadera fábrica de gas. Vemos en qué contradicciones se ha extraviado la en adelante AFSSAPS, ahora ANSM, mientras que su competencia estaba bien definida: los estudios biológicos. Nos enteramos de su final en agua de borrajas de los proyectos de reglamentación del título de psicoterapeuta (decreto del 7 de mayo de 2010 relativo al uso de ese título, cfr. Comunicado de LC del 9 de mayo) Podemos imaginar sin dificultad los impasses en los que esa nueva Agencia no dejaría de perderse.
Franck Ramus se jacta de no ser un clínico y de no orientarse más que por la “ciencia” es decir por el horizonte de las series estadísticas de “la evidence based medecine”. Es el director de investigación en el CNRS y también miembro del KOllectif del 7 de enero, grupo de apoyo del documental El Muro, y “grupo de reflexión sobre el tema de las prácticas terapeuticas para los niños autistas, para hacerles evolucionar a pesar de la resistencia de numerosos psicoanalistas”. La animadora es Brigitte Axelrad, profesora honoraria de filosofía y de psicosociología, autora de un libro sobre “los estragos de los falsos recuerdos” (2011), que sostiene tesis muy diferentes de las de  Jean-Claude Maleval (1) sobre las causas de la epidemia de “falsos recuerdos”. En el colectivo encontramos también a Yann Kindo,profesor de historia-geografía militante racionalista, cuyo blog, albergado por Mediapart, dispara contra el psicoanálisis y recomienda la desobediencia civil para “convertirse en plantador voluntario del OGM” El 10 de mayo de 2012, fiel a las recomendaciones del “Manifiesto para una psiquiatría y una psicología basadas en pruebas científicas” producido por el KOllectif, Franck Ramus publica en otro blog albergado por Mediapart un artículo orgullosamente titulado: “El sufrimiento psíquico no es ni evaluable ni medible” ¡Anda ya!” En él, reafirma su fe en lo bien fundado de las evaluaciones estadísticas para medir todo lo psíquico. Sin embargo, en el dossier consagrado al autismo del número de abril de 2012 de Sciences et avenir, no podía esconder su sorpresa por el poco impacto que había tenido el “Manifiesto” del Kollectif, cuando había querido hacerlo firmar como petición en su entorno. La causa sería simple “Según él, muchos de los jóvenes psiquiatras juzgarían demasiado arriesgado para su carrera decir alto y claro lo que piensan en privado del psicoanálisis francés”, informa el dossier de S&AAhí tenemos los dos eslabones de la cadena del campo subjetivo. Todo lo psíquico se mide, y si algo imprevisto aparece, se trata de un complot psicoanalítico. El hecho, la evidencia, es que el “Manifiesto” ha fracasado. El resto es interpretación.

1.   Maleval J.-C., Étonnantes mystifications de la psychothérapie autoritaire, Navarin/Le Champ freudien, mai 2012

Fuente: Lacan Quotidien 208.
Traducción de Julia Gutiérrez.

domingo, 27 de maio de 2012

JACQUES LACAN


“É ao escrever que encontro alguma coisa.
É um fato, ao menos para mim.
O que não quer dizer que
se não escrevesse não
encontraria nada.
Mas enfim, talvez não me
desse conta de algo.”
Jacques Lacan.
O Seminário – Livro XIX -...ou pire.

La infancia bajo control



LAINFANCIA BAJO CONTROL
Vilma Coccoz


Es ya un hecho admitido y comentado desde los más diversos ámbitos de la sociedad, el carácter fabuloso de las transformaciones que se están produciendo en la civilización a causa de la llamada “revolución tecnológica”.
Los profundos cambios que percibimos en muchos aspectos de nuestras vidas, se hacen sentir, ¿cómo no?  En el estado actual de los discursos. Ciertos conceptos, ciertos juicios que parecían referencias inamovibles en la conformación de nuestra realidad o, al menos, que podían considerarse estables, presentan, actualmente, un carácter “líquido”, según la expresión de Bauman.  Conceptos tales como familia, educación, transmisión, autoridad, se vuelven porosos, escurridizos. Sufren una mutación sin precedentes.
Lacan había demostrado que los discursos, concebidos como modos del lazo social, como formas distintas de ordenamiento de la realidad social, no se constituyen de cualquier manera, sino que responden a una lógica muy precisa de funcionamiento y, por lo tanto, desde el punto de vista de su lógica interna, no existen mil maneras de construir un discurso. Lacan les redujo sólo a cuatro.
Sin embargo, años después, tuvo que rendirse a la evidencia y admitir el quinto, el discurso capitalista, -surgido de una transformación del discurso del amo-, al que calificó de “endiabladamente astuto”. Uno de los caracteres específicos del discurso capitalista es haber conseguido eliminar la dimensión de la verdad, de manera tal que, incluso la denuncia de sus efectos, aún siendo muy verdadera, acaba siendo engullida por su movimiento voraz hasta anular su eficacia.
Pier Paolo Pasolini, en una entrevista realizada en 1975,  recientemente publicada por el periódico LaRepública2, reflexionaba acerca de la transformación antropológica que se estaba produciendo en Italia debido al imperio consumista. El fascismo-clerical, aún con su comparsa de conceptos absolutos de Dios, familia, patria, ejército, no había conseguido cambiar el carácter de los italianos.
En cambio, constataba que el consumismo trae aparejado un fascismo muchísimo peor porque destruye el humanismo.  El fascismo, como régimen totalitario, enmarcado en el discurso del amo, puede generar la revuelta, la insurrección.
Ante un régimen totalitario es posible fraguar una oposición. En cambio, el consumismo tiene un alcance totalizante, advertía el artista.
El consumismo posee un carácter “medusante”, “tantalizante”, que dirían los franceses, penetra en nuestros poros sin que nos demos cuenta. El consumismo induce la sugestión, se distribuye insidiosamente, todo lo traga y lo transforma en el imparable cómputo de valores mercantiles. Uno de sus triunfos evidentes ha sido la operación en torno al término “seguridad” hasta convertirlo en un concepto absoluto, en un significante amo que ordena nuestras existencias.  El horror de las personas es “quedar fuera”…del trabajo, de la sociedad, de lo admitido.  Por consiguiente, el valor esencial es “mantenerse a salvo”, “estar seguro” y, la consecuencia inmediata, intentar eliminar aquello que perturba el orden, la supuesta seguridad.  Frágil orden ficticio conseguido a fuerza de movilizar el afecto más primario, el miedo.
En este marco, se comprende que la “preocupación” por atrapar las raíces biológicas de la delincuencia, -uno de los factores de perturbación de la seguridad- se haya extendido rápidamente. Una nueva forma de la infancia diabólica se pergeña con las investigaciones psicológicas, inspiradas por la ideología de la evaluación. Los “avances científicos” pregonan el diagnóstico precoz de los “futuros violentos”, de los “fuera de las normas”.  Ellos nutren sus tests y protocolos con presupuestos suculentos aportados por la industria farmacológica.
Esta nueva forma de manipulación de la infancia, por medio de la incontestable y aplastante superioridad del adulto sobre el joven se cobija en el efecto hipnótico que trae aparejado el adjetivo “científico”, cuya sola invocación sirve para acallar muchas voces, y muchas conciencias.
Pero es un hecho que, gran parte de la investigación, otrora desinteresada de la ciencia, sirve hoy a imperativos intereses que dictaminan los mercados.
En ocasión de una asamblea del Movimiento 15M del Barrio de Chamberí, el escritor José Luis Sampedro afirmaba que el Dios Dinero tiene los días contados.  En la época de los griegos, decía, Dios era el Hombre, luego Dios fue Dios. Más tarde, fue desbancado por la Razón, suplantada, a su vez, por el Dinero.
Al igual que Freud, que enunciaba en medio de la catástrofe de la Gran Guerra que el deber del viviente es conservar la Vida, Sampedro se pronunciaba a favor de un nuevo Dios al que servir. Nuestro deber, el del ser humano, es servir a la Vida. Somos la vanguardia de la Vida, clamaba, debido a la complejidad de la que estamos hechos los seres de palabra.
Cada ser de palabra es la encarnación única de una compleja realidad que va más allá de nuestra biología. Se puede sucumbir al canto de las sirenas que reiteran su estribillo machacón: “la raíces de nuestra conducta están en la genética, en el quimismo cerebral, está demostrado, es científico!”. Se puede sucumbir, pero no nos enseña nada. Al contrario, la sabiduría anida en el conflicto interno, en las disidencias que sufrimos en el camino de nuestra formación y en el que la educación tiene un valor fundamental.
El discurso analítico nos enseña cada día la capacidad de creación infinita de adaptación a esta realidad que manifiesta el ser humano. La sutil y poderosa combinación en la que nacen las elecciones decisivas de nuestras vidas, el imprevisible efecto que alcanzan las palabras y los silencios de nuestros próximos en nuestra manera de ser, la singular materia de la que están hechos nuestros pensamientos y deseos inconscientes.  La práctica analítica ha verificado que las dificultades y los síntomas de la infancia tienen un valor relacional, por eso es en el marco de una relación de  palabra, la analítica, donde el síntoma entrega sus secretos, donde se descifran sus enigmas.
Cada ser tiene el legítimo derecho a hacer su recorrido vital, tejido con lo heredado y lo azaroso. Perfilado por lo que escoge y lo que rechaza, sin tener que rendirse a oscuros dioses que dictaminan, ya desde sus primeros pasos, que su destino ha sido escrito en caracteres científicos.
Nosotros tenemos el deber de proteger ese derecho, es decir, de proteger la Vida.
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1 El acto fue coordinado por Vilma Coccoz, responsable del Departamento de Psicoanálisis con niños y Mónica Unterberger, responsable del Espacio Madrileño de Psicoanálisis con niños.
2 Debo a nuestro colega italiano Maximiliano Rebeggiani  el descubrimiento de esta referencia en su texto: Totalizzante ma non Totalitario (inédita)

FILMES - BABEL - A diversidade cultural e social nos filmes de Alejandro González Iñárritu, por João Paulo Palú






A diversidade cultural e social
nos filmes de Alejandro González Iñárritu
                                                                 
João Paulo Palú
1
 
Resumo
O cinema e as outras mídias em geral se ressentem na atualidade de uma apresentação e
discussão maior de temas pertinentes à sociedade, como, por exemplo, a diversidade
cultural e a discriminação social. O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu
responsável pelos filmes Amores Brutos (2000), 21 Gramas (2003) e Babel (2006) é um
dos poucos que investe em temas polêmicos  e não o faz como estratégia de autopromoção, seu cinema contempla principalmente os marginalizados e discriminados
pela sociedade. Este trabalho pretende analisar os três filmes lançados pelo cineasta e
mostrar a diversidade de temáticas exploradas por cada um deles bem como os pontos
que têm em comum que denotam mais uma persistência em tratar de questões caras a
um determinado autor, do que simples acomodação em torno de um mesmo tema ou
fórmula. É ainda intenção do trabalho analisar as qualidades estéticas dos filmes que
vêm se somar aos temas abordados, na tentativa de identificar um cineasta com uma
curta, porém promissora carreira cinematográfica.
Palavras-chave:  Alejandro González Iñárritu, cinema, diversidade, marginalização,
narrativa  não-linear.
Introdução
O diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (43) lançou em 2006 seu
terceiro longa-metragem intitulado Babel (2006) que conta 4 diferentes histórias ligadas
por um acontecimento aparentemente banal, um caçador japonês que, em férias no
Marrocos, presenteia seu guia com um rifle de caça.
A partir desse fato, a vida de uma família de criadores de cabra no Marrocos, um
casal de americanos em férias no Marrocos, uma japonesa surda-muda em Tóquio e
duas crianças norte-americanas com sua babá mexicana na fronteira México-EUA vão
estabelecer uma ligação contada de maneira fragmentada por Iñárritu.
A ligação de diferentes personagens através de um fato  em comum e a sua
posterior repercussão é marca registrada desse cineasta que também é o diretor de
Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003).
Para elaborar seus roteiros e filmes, o diretor conta com a colaboração do
roteirista mexicano Guillermo Arriaga, parceria que de acordo com a mídia
especializada terminou, após ambos anunciarem o rompimento depois de Babel.
Terminada ou não a parceria entre Iñárritu e Arriaga, o que se pode ver em seus
três filmes é uma preocupação em retratar diferentes pontos de vista e personagens que
dificilmente são vistos nas telas de cinema.  O que se mostra diferente no cinema de Inarritú e seu roteirista é a preocupação
por personagens marginalizados que de alguma maneira são colocados, ou se colocam,
em situações de tensão social frente a personagens de classes sociais mais privilegiadas
e como essa segregação social se reflete nas ações dos personagens.
Deve-se destacar a estética similar dos filmes cujas histórias são contadas de
maneira não-linear onde passado, presente e futuro se misturam em uma linha temporal
que permite ao espectador entender fatos e atitudes de personagens antes mesmo deles
acontecerem.
Não se pode afirmar que sua temática ou estética são totalmente revolucionárias
na arte cinematográfica, basta citar dois grandes filmes da década de 90 como  Short
Cuts – Cenas da Vida (1993) de Robert Altman e Pulp Fiction – Tempo de Violência
(1994)  de Quentin Tarantino que adotam estruturas semelhantes, porém, se pode
assegurar que ambas não são usadas de maneira vazia, elas tem um propósito bem
definido, as histórias se mostram atuais,  e a maneira “hipertextual” em que se
apresentam é o retrato do início do século XXI.
Em cada um dos três filmes temos personagens centrais com algum tipo de
discriminação social, em Amores Brutos há um ex-guerrilheiro comunista transformado
em matador de aluguel que perambula pelas ruas da cidade do México recolhendo
material para ser reciclado, seus únicos amigos são um bando de cães vira-latas.
Em 21 Gramas temos o ex-condenado e ex-alcoólatra que se converteu a uma
religião evangélica mas que acaba provocando um acidente que destrói uma família e
em Babel há a empregada doméstica, uma mexicana trabalhando ilegalmente nos EUA
e ainda uma família de criadores de cabra em inóspitas montanhas do Marrocos.  
Outro fator constantemente presente na filmografia de Iñarritú é misturar
personagens de mundos diferentes através de uma tragédia e então, mostrar os distintos
desdobramentos dessa na vida de cada um, de acordo com sua condição social.
O diretor parece sempre querer dizer que os personagens que mais sofrem são
aqueles que têm uma vida econômica mais tranqüila, os marginalizados, apesar de
sofrerem carregam dentro de si algum tipo  de gene que os predispõe a enfrentar os
problemas melhor do que os personagens de classes mais altas.
Amores Brutos apresenta uma modelo rica e famosa que namora um publicitário
de meia-idade que deixa a família para morar com ela, no entanto, essa modelo se
envolve em um acidente automobilístico que a deixa gravemente ferida e cicatrizada,
sua vida de glamour, portanto, terminou. Outro acidente automobilístico muda a vida dos personagens de  21 Gramas,
aqui, a vida confortável da  classe média alta é representada por uma ex-viciada em
drogas que ao se casar com um bem-sucedido arquiteto e ter duas filhas, deixa para trás
sua vida pregressa para depois retomá-la, ao se ver sozinha com a morte de toda família.
Em Babel o acidente de carros é substituído por uma bala perdida disparada por
um menino marroquino que testa o rifle comprado pelo pai, a bala acerta um ônibus de
turistas que excursiona pelas montanhas do país.
A personagem atingida é uma norte-americana que tenta reconstruir seu
casamento com o marido após a perda de um bebê, ela se vê entre a vida e a morte em
lugar desconhecido, onde as pessoas teoricamente mais próximas, os outros turistas do
ônibus, pretendem seguir viagem com medo  de também sofrerem um atentado, que
julga-se, tratar de um ato terrorista.
O terceiro grupo de personagens dos filmes de Inarritú também sofre com a
discriminação, agora não tanto de ordem econômica, mas de outra natureza, em Babel
há uma adolescente japonesa que por ser surda-muda é rejeitada pelos garotos de sua
idade, ela é também rejeitada pelas próprias colegas por ser a única virgem do grupo.
21 Gramas traz um professor de matemática que necessita urgentemente de um
transplante de coração, o diretor mexicano chama aqui a atenção para os milhões de
enfermos que de uma maneira ou de outra dependem de um sistema de saúde que
mesmo no país mais rico do mundo, os EUA, se apresenta ineficiente.
A violência contra a mulher é mostrada em  Amores Brutos  através da
personagem que procura fugir da violência do marido com o auxílio do cunhado, que
também é seu amante. A violência aqui ainda encontra outra faceta na clandestina briga
de cães em que o rapaz usa seu cão para ganhar dinheiro e fugir com a mulher do irmão.
Através desse breve relato das personagens e suas tramas se percebe que o
cinema de Iñarritú é rico em temas atuais procurando mostrar personagens que fazem
parte da vida social mesmo que muitas vezes ignorados por grande parte da sociedade.
Uma análise mais detalhada de cada um dos filmes em separado se mostra
importante, tendo-se a certeza de que o tema não se esgotará, mas com a esperança de
que despertará futuras contribuições e diferentes visões das apresentadas neste trabalho.      
Amores Brutos
O título brasileiro do filme lançado em 2000 fica aquém do impacto de seu título
original em espanhol Amores Perros,  que pode ser traduzido como Amores Cães,  tal título pode ser entendido pelo amor dos personagens por cães, como um da raça
rottweiler chamado no filme de Cofi ou ainda um outro da raça poodle, chamado Richi.
Os “amores cães” podem ainda ser interpretados como o amor de certos
personagens que “sofrem como cães” a partir do momento em que um terrível acidente
automobilístico acontece, mudando e entrelaçando seus destinos.
O acidente é o ponto de partida para uma narrativa criada pelo diretor Alejandro
González Iñárritu e o roteirista Guillermo  Arriaga onde três histórias distintas
acompanham personagens que vivem em  mundos diferentes e acabam por se
influenciar.
A trama se passa na Cidade do México, país mais populoso da América Latina,
cenário perfeito para se falar de desigualdades sociais, o acidente, ocorre quando o
jovem Octavio (Gael García Bernal), decide fugir com a mulher de seu irmão, Susana
(Vanessa Bauche), usando seu cão rottweiller Cofi em uma rinha de cães para ganhar
algum dinheiro.
O plano acaba não dando certo pois o cão leva um tiro de outro dono de
cachorro, obrigando Octavio a sair pelas ruas da cidade desgovernadamente e bater no
carro de Valeria (Goya Toledo), seus planos são frustrados e ele tem que enfrentar o
irmão, o descontentamento de Susana por sua incompetência, e ainda a perda do cão
após o acidente.
Valeria é uma modelo que tem uma vida  completamente distinta de Octavio,
porém, ela também tem uma paixão por cães pois é dona da  poodle  Richi, aqui a
analogia é clara, enquanto o cão rottweiller, forte e feroz, pertence a um jovem à beira
da marginalidade, a cadela  poodle, pequena e delicada, é propriedade de uma
personagem que representa uma alta classe social.
A modelo se envolve no acidente no momento em que está mudando para seu
novo apartamento onde pretende morar com Daniel (Álvaro Guerrero) um publicitário
de meia-idade que abandona esposa e filhas para viver com Valeria.
O terceiro arco dessa história é Chivo (Emilio Echevarría), um ex-guerrilheiro
comunista que sobrevive como catador de papel e ainda atua como matador de aluguel,
ele assiste ao acidente enquanto investiga os hábitos de sua próxima vítima.
Dono de vários cães de rua, Chivo vê o rottweiller ferido e o socorre levando-o
para sua casa, o assassino frio que não sente nenhuma compaixão por suas vítimas
resgata o cachorro e faz de sua recuperação uma possibilidade de redenção própria. As conseqüências do acidente na vida dos personagens têm caminhos diversos
como, por exemplo, o casal formado pela modelo e o publicitário que arrepende-se de
ter deixado a família ao ver sua vida com Valeria se tornar um drama após o acidente.
A modelo se vê confinada a uma cadeira de rodas e passa a ter contato com o
mundo da janela do apartamento, o que ela vê então é uma grande ironia, um outdoor
com sua imagem nos tempos de fama e sucesso, mas isso não é o pior que lhe acontece.
Seu sofrimento aumenta quando sua cadela de estimação fica presa no assoalho
do apartamento ao perseguir ratos, a modelo desesperada pela perda da poodle não tem
outra solução senão arrebentar quase completamente o chão em busca do animal.
A prisão da cadela no chão é a metáfora da prisão imposta a Valeria que passa a
experimentar um sentimento novo, de cerceamento de seus direitos de ir e vir, pois
passa a depender de outros para realizar as tarefas mais simples, o diretor transforma
uma personagem até antipática em uma deficiente física, chamando a atenção para
tantos outros deficientes que não tem uma vida digna, com o mínimo de direitos
garantidos.
Outra personagem que se sente aprisionado só que interiormente é Chivo que
teve que renunciar à sua família para se tornar guerrilheiro comunista e depois, quando
a família, principalmente a filha, não o aceitou de volta, passou a viver pelas ruas da
grande cidade e ter como única companhia um bando de cães.
Chivo começa a se libertar de sua prisão após pegar o cão que estava no acidente
e cuidar dele, passa então a questionar sua vida como matador de aluguel, refletindo se
deve ou não realizar o próximo serviço para o qual foi contratado, é quando começa a se
aproximar de sua filha que no final lhe abre uma possibilidade de reconciliação.
 Em seu primeiro filme, o diretor mexicano mostra personagens que sofrem e
que não se recuperam inteiramente de seus sofrimentos, no entanto, não se pode acusá-
lo de ser partidário do conhecido dramalhão mexicano, pelo contrário, Iñárritu constrói
dramas que são reais e tem razão para isso, não precisa cair em fórmulas fáceis e
apelativas.  
21 Gramas
O segundo filme de Iñarritú pode ser considerado a sua estréia internacional pois
é falado em inglês, foi produzido pelo estúdio norte-americano Universal e conta com
atores do primeiro escalão hollywoodiano  como Sean Penn, Naomi Watts e ainda o
mexicano Benicio Del Toro. Lançado em 2003, o título do filme se refere aos 21 gramas de massa corporal
que supostamente uma pessoa perde ao morrer, enquanto cientistas apresentam
explicações racionais para tal acontecimento, muitas religiões acreditam ser este o “peso
da alma”.
O diretor mexicano segue a definição dos que acreditam numa vida após a morte
e discute nesse filme questões de culpa, redenção, perdão e como em seu primeiro
filme, mostra ao espectador personagens de algum modo marginalizados pela sociedade.
O ponto de mudança na vida dos personagens também acontece após um
acidente automobilístico como em  Amores Brutos, aqui, no entanto, o acidente é
causado por um ex-presidiário Jack Jordan (Benicio Del Toro) que vive trabalhando
para sua igreja.
Os envolvidos no acidente também são diferentes do primeiro filme, aqui a
perda é maior pois duas meninas e seu pai são atropelados e vem a falecer deixando a
mãe e esposa Cristina Peck.(Naomi Watts) completamente desamparada.
Ela, que antes de casar e formar uma família era viciada em drogas, fraqueja
diante de tal situação e passa a consumí-las novamente, o “beneficiado” com o acidente
que em Amores Brutos foi o ex-guerrilheiro e matador de aluguel que ficou com o cão
rottweiller, em 21 Gramas  é o professor de matemática Paul Rivers (Sean Penn) que
recebe o coração do marido de Cristina em um transplante que o livra da morte.
Após receber um novo coração, Paul fica  curioso em saber a quem pertencera
anteriormente, ele contrata um detetive e acaba se envolvendo com Cristina, a esposa do
homem que lhe doou o coração, não sem antes passar por uma crise com sua esposa
Mary (Charlotte Gainsbourg) que o ajudou durante seu período convalescente querendo
até ter um filho seu por meio de inseminação artificial.
A narrativa mais uma vez é não-linear, assiste-se, por exemplo, a uma cena que
ocorreu meses antes de outra, a linha temporal é formada pelo espectador lentamente de
acordo com o contato que ele tem com o sofrimento e a angústia dos personagens, o que
pode ser uma faca de dois-gumes pois pode tanto atiçar a curiosidade quanto inutilizar
uma cena pois já se sabe de antemão sua conclusão.  
É interessante notar que aqueles que mais sofrem com o acidente viviam vidas
felizes antes, Cristina tinha se recuperado das drogas e levava uma vida de classemédia, Jack reconstruiu sua vida na prisão ao ter contato com uma religião e pregava o
evangelho. Em  Amores Brutos,  os envolvidos no acidente  passavam por momentos
distintos, enquanto a modelo estava feliz  pelo seu sucesso, sua casa e seu amante, o
jovem encontrava-se em uma situação-limite  pois teve que usar seu para conseguir
dinheiro e fugir com a cunhada.
Jack representa ainda uma classe de pessoas que por terem passado por uma
prisão ficam para sempre estigmatizadas em qualquer sociedade, ele é despedido do
clube onde trabalhava carregando tacos de golfe pela reclamação dos associados em ver
suas tatuagens.
Aqui, o diretor mexicano focaliza pessoas que são freqüentemente retratadas
pela mídia de maneira unidimensional, bandidos que se convertem a uma religião e se
transformam em fanáticos religiosos. Graças ao excelente trabalho de Del Toro, o
personagem Jack não pode ser visto somente por esse ângulo.
Fica evidente que Jack é um sujeito que luta constantemente contra seus
problemas sociais (ex-presidiário) e emocionais (ex-alcoólatra) ele é visto aconselhando
um jovem sobre o futuro, carrega a Bíblia para onde vai mas ao mesmo tempo se
orgulha de sua caminhonete equipada ganha numa rifa, presente de Jesus, acredita.
Vemos o personagem como um ser humano comum com defeitos e qualidades e
que após o acidente do qual fugiu sem prestar socorro, passa a carregar um sentimento
de culpa e questionar se Deus o abandonou depois de tanto esforço em pregar seus
ensinamentos, fica dividido entre esconder o acidente ou se entregar.
Jack então confessa o “crime” que cometeu e vai para a cadeia, lá tenta se
suicidar, mostrando-se determinado a pagar pelo mau que cometeu, quando é solto por
falta de provas decide ir morar em um motel longe da família.
Outro personagem característico da filmografia de Iñárritu é Paul Rivers, é
difícil assistir filmes em que um doente terminal é um dos personagens principais, o
personagem interpretado por Sean Penn, diferente dos personagens Cristina e Jack
parece ser o único a procurar uma dor ao invés de ficar feliz pelo transplante, pesa sobre
ele um sentimento de culpa misturado a um sentimento de gratidão por carregar o
coração que um dia pertenceu ao marido de Cristina.
Ao mesmo tempo em que carrega essa culpa e gratidão, Paul não hesita em
abandonar a esposa para ficar com Cristina, o espectador não sabe se sente pena ou
raiva do personagem, que, como qualquer  ser humano que cria em si todo tipo de
contradição.   Por fim há a personagem Cristina Peck que parece questionar o espectador se ele
não faria o mesmo que ela ao ver sua família morta, até onde a vida continua para
alguém que perdeu aquilo que a mantinha longe de seus maiores problemas, as drogas.
Sua única maneira de continuar a viver é para descobrir quem a privou de sua
felicidade e se vingar, para isso, não pensa duas vezes em usar Paul que está apaixonado
por ela para cometer um crime.
Paul, no entanto, não consegue matar  Jack, no último momento ele apenas
dispara a arma e manda Jack desaparecer da região, Cristina analisando o revólver e
vendo que faltam balas pergunta se Paul o matou e ele, mentindo, diz que sim.
Jack acha a possibilidade de pagar pelo crime e vai até o quarto de motel onde
Cristina e Paul estão hospedados, lá pede  para Paul matá-lo mas ele não consegue,
Cristina irada, começa a bater em Jack com tudo o que encontra pela frente até que Paul
dispara a arma contra si mesmo.
Jack e Cristina socorrem Paul que morre no hospital, ela também descobre, ao
doar sangue, que está grávida, já Jack ao se ver tão perto da morte retorna para sua
família, o filme acaba com Cristina renovada pela gravidez que lhe trará nova razão
para viver.
Iñárritu não julga seus personagens e pede o mesmo para o público, ele mostra
como mesmo aqueles que a sociedade veladamente ou não despreza, devem ser vistos
antes como seres humanos que precisam ser entendidos, seus atos não são gratuitos,
algo os levou a fazer o que fazem, e, por pior que sejam os acontecimentos, há sempre
espaço para um recomeço.
Babel
O mais recente filme de Alejandro G. Iñárritu foi lançado em 2006 e concorreu a
diversas categorias do Oscar 2007, entre elas, melhor filme e melhor diretor. O roteiro,
como Amores Brutos e 21 Gramas foi escrito pelo diretor e o roteirista Arriaga.
O título do filme se refere à famosa Torre de Babel citada no primeiro livro
bíblico, o Gênesis, onde no capítulo 11 tentou-se construir uma torre que chegasse até
os céus. Deus, irado com tal pretensão do ser humano fez com que cada um começasse a
falar uma língua diferente criando desentendimento entre os homens, impedido a
conclusão da torre.  Babel tem como tema central os problemas de comunicação não somente entre
pessoas que falam diferentes idiomas mas também entre diferentes culturas e ainda entre
pessoas que falam o mesmo idioma mas que não conseguem se entender.
 É o caso dos personagens Richard (Brad Pitt) e Susan (Cate Blanchett) que
viajando Marrocos tentam reconstruir um casamento abalado após a morte de um dos
filhos ainda bebê, numa parada do ônibus de turismo que os leva entre as montanhas
marroquinas, Susan pergunta ao marido o motivo de tal viagem, por que foram tão
longe para resolver um problema conjugal.
 Paralelamente ao drama do casal americano, o espectador conhece os outros
arcos que compõem o filme, mais uma vez, roteirista e diretor lançam mão de uma
narrativa não-linear que aos poucos vai fazendo sentido e conectando suas peças.
 Há a família marroquina que mora nas montanhas pastoreando cabras, ela é o
ponto de partida do filme e a responsável pelo fato que muda a vida de todos os
personagens, temos o pai da família que compra o rifle de outro camponês, o filho mais
novo e mais esperto que o filho mais velho, a mãe dos meninos e a irmã, responsável
por despertar no irmão mais novo seus primeiros desejos sexuais.
 Os outros dois fios desse novelo são  a adolescente japonesa surda-muda que
além dos problemas típicos da idade sente a falta da mãe que se suicidou e é
discriminada pelas colegas por não ter tido relações sexuais com nenhum homem ainda
e, finalmente, a babá mexicana que trabalha ilegalmente nos EUA cuidando dos filhos
do casal Richard e Susan e que, sem opção, leva as crianças ao México para não perder
o casamento do filho.
 Diferente dos acidentes de seus dois filmes anteriores, em Babel, Iñárritu usa um
outro acontecimento para iniciar a narrativa, o rifle dos marroquinos acerta a americana
Susan que estava no ônibus de turismo e a deixa à beira da morte
 O tiro disparado pelo menino mais novo  é também um acidente, pois ele e o
irmão estão testando o rifle que o pai lhes  deu para defender as cabras de coiotes e
acabam disparando contra o ônibus que viaja  em uma estrada distante de onde estão,
assustados escondem do pai o fato.
 O tiro que acerta Susan desencadeia o segmento mais interessante do filme, onde
o título  Babel se encaixa perfeitamente, pois Richard fica impotente de socorrer sua
esposa em um lugar inóspito e os turistas que viajam com ele, teoricamente as pessoas
mais próximas, ficam assustadas e querem deixá-los numa vila e voltar para um local
seguro com o ônibus.  O guia turístico marroquino faz o que está ao seu alcance e se compadece com a
situação do casal, quando um médico examina Susan e diz que a situação é grave, o guia
não traduz exatamente o que está acontecendo, mas Richard exige a verdade
desesperando-se com a possibilidade de perder a esposa.
 Uma interessante questão levantada pelo filme é que o tiro que acerta Susan se
transforma em um ato terrorista de proporções mundiais, Iñárritu toca num ponto central
do mundo ocidental pós 11 de setembro onde o medo e o inimigo estão sempre
presentes na vida das pessoas.
 Se fosse no mundo real, quem não garantiria que a repercussão do fato mostrado
pelo filme não seria o mesmo, a imprensa ocidental levantadas suspeitas sobre o mundo
árabe e superdimensionando uma notícia, no filme, o socorro demora a chegar pois o
consulado norte-americano se encarrega de  enviar um helicóptero para resgatar sua
cidadã por temer que uma ambulância marroquina não prestaria o devido socorro.
 O tiro disparado no Marrocos que acerta uma americana acaba influenciando os
planos de uma mexicana nos EUA, Amélia (Adriana Barraza) é uma imigrante ilegal
que pretende ir ao México participar do casamento do filho mas que devido ao problema
com o casal norte-americano, tem que levar as crianças para o México.
 No casamento tudo corre bem, as crianças se encantam por estar em um mundo
novo de que só ouviram falar (não muito bem),  pelos pais, elas participam da festa,
brincam com outras crianças mexicanas, o problema está no retorno aos EUA.
 O sobrinho da babá (Gael Garcia Bernal) é o encarregado de levá-los de volta
para casa, o problema acontece na fronteira México-EUA quando um policial impede
que eles entrem nos EUA por não terem os documentos autorizando o transporte das
crianças, com medo de ser preso, o sobrinho resolve fugir com o carro deixando babá e
crianças no meio do deserto.
 Após passar a noite e uma parte do dia perambulando pelo deserto, a babá é
encontrada por um policial que a prende e resgata as crianças, no interrogatório, ela
recebe uma dura do policial que diz para ela nunca mais voltar a entrar nos EUA, muito
abalada, ela quer saber o estado das crianças que ajudou a criar desde o nascimento.
 O diretor mexicano expõe aqui com toda propriedade uma situação muito
familiar aos mexicanos e também aos brasileiros, que é o sonho de viver nos EUA, de
um lado há o povo marginalizado que luta por uma vida melhor em outro país e de outro
aqueles que expulsam do país quem os incomoda.  A história da adolescente japonesa se liga as outras pois o rifle pertencia a seu
pai, com quem não se entende, que o deu  a um marroquino quando foi lá caçar, esse
marroquino posteriormente vende a arma que desencadeia todos os dramas do filme.
 Como já comentado, a adolescente é surda-muda e se sente excluída do convívio
social pois quando se aproxima de meninos estes a desprezam devido à sua deficiência.
Mais uma vez Iñárritu toca em questões sociais que muitas vezes passam longe da
grande mídia e da sociedade.
 Se em  Amores Brutos  a modelo fica paralítica, aqui a surda-muda mostra a
dificuldade que essas pessoas tem  de levar uma vida normal principalmente pelo fato
da grande maioria da sociedade não saber lidar com os diferentes tipos de deficiências.
 Desesperada por não se sentir desejada por ninguém,  ela resolve se entregar a
um policial que quer esclarecer a origem da arma que atingiu a norte-americana, para
isso ela o chama em seu apartamento e aparece nua diante dele, o policial percebendo a
instabilidade emocional da moça pede para ela se cobrir e tenta confortá-la.
 O policial vai embora mas fica claro que uma relação amorosa entre ambos está
estabelecida, o pai ao voltar do trabalho encontra com o policial que lhe pergunta sobre
a arma e este confirma que a deu ao guia marroquino, ao chegar em casa, vê a filha na
varanda e a abraça, gesto que se conclui, não fazia há muito tempo.
 Voltando ao Marrocos, os meninos contam ao pai o que fizeram por verem que a
polícia está atrás deles, não sabendo o que fazer, tentam fugir  quando a polícia ao
pensar que se trata de perigosos terroristas abre fogo contra o pai e os dois meninos.
 O pior acontece para o menino mais velho que acaba levando um tiro e morre, o
mais novo, desesperado por ver o irmão se entrega e pede aos policiais que o prendem e
salvem o irmão, ele confessa ter sido o autor do disparo que atingiu a americana.
 A americana, a vítima, após sofrer muito é resgata e sobrevive, o agressor, o
árabe é punido com a morte, com Babel  o diretor mexicano apresenta um filme que
mais do que mostrar a falta de comunicação entre os povos, fala da intolerância, da
desumanização das relações entre as pessoas, da exploração e de como é difícil ser
diferente no mundo atual.
   
Conclusão
Três filmes na carreira de um diretor ainda não constituem o que geralmente se
chama de “obra”, mas é um bom indício de onde essa carreira pode chegar, Alejandro
G. Iñárritu apresenta traços de um diretor preocupado em evoluir, filme após filme, em torno do que um dia pode vir a ser “o cinema de Iñárritu” como hoje temos o cinema de
Hitchcock ou o de Glauber Rocha.
 Esse trabalho dá uma pequena pista de que o mexicano parece estar no caminho
certo ao tentar, através da análise de seus três filmes, identificar pontos estéticos e
temáticos em comum, questões que reunidas  e analisadas levam o espectador que se
depara com Amores Brutos, 21 Gramas ou Babel a perceber que se tratam de filmes de
um mesmo diretor.  
 Não se pode esquecer que os três filmes tiveram como roteirista creditado,
Guillermo Arriaga que, segundo informações colhidas em revistas especializadas não
fará parte dos projetos futuros de Iñárritu, portanto, somente um quarto filme sem sua
colaboração pode dimensionar o seu potencial peso na filmografia analisada.
 É sabido que o roteiro de um filme não é o filme, ótimos roteiros nas mãos de
diretores menos capazes se convertem em filmes medíocres, bem como roteiros fracos
nas mãos de pessoas talentosas se transformam em grandes filmes.
 Este trabalho reconhece a importância do roteirista na elaboração dos filmes mas
leva em conta novamente informações da imprensa de que Iñárritu é participante ativo
na criação dos personagens e tramas de seus filmes, portanto o sucesso ou fracasso deles
se deve mais ao seu trabalho como “Iñárritu diretor” do que como “Iñárritu roteirista”.
 Deve-se destacar as críticas e elogios recebidos pelos filmes, as primeiras dizem
que Iñárritu teria descoberto uma fórmula  para realizar filmes e a repete sempre,
mudando personagens e situações que no fundo são os mesmos em todos os filmes.
 Essas críticas entendem como fórmula  a maneira não-linear e fragmentada da
narrativa dos filmes, onde cenas aparentemente soltas se encontram no final ou ainda,
um acontecimento em comum que afeta todos os personagens de alguma maneira.
 Algumas críticas ressaltam que uma história não-linear é um modo de esconder
possíveis “furos” no roteiro e, propositadamente, confundir o espectador que então julga
o filme de maneira positiva ressaltando qualidades que ele não possui.
 Seguramente se pode afirmar que a  narrativa fragmentada é uma escolha
consciente do diretor, mas tal recurso não é usado apenas para confundir o espectador
ou chocá-lo, parece ter mais relação com o tipo de filme que se quer fazer, ou melhor, o
tipo de história se quer contar.
 Os filmes do diretor mexicano contam com várias histórias ou “arcos”, onde
diversos núcleos de personagens se desenvolvem podendo ou não se cruzar, há, como já
citado nesse trabalho, vários filmes que adotam essa narrativa; indo um pouco mais longe as telenovelas, principal produto ficcional latino-americano, seguem estrutura
narrativa parecida.
 Deixando a parte “literária” de lado, deve-se destacar no cinema de Iñárritu os
recursos cinematográficos utilizados para desenvolver o filme, como montagem,
enquadramento, som, luz, interpretação, entre outros.
 Em qualquer um de seus três filmes o mexicano contou com excelentes atores
como em  Amores Brutos  onde trabalhou com atores mais conhecidos no México,
destacando-se Emilio Echevarría intérprete do ex-guerrilheiro que cuida do rottweiler e
Gael Garcia Bernal, jovem e talentoso ator que interpretou Octavio, hoje em Hollywood.
Tanto  21 Gramas  quanto Babel,  rodados em inglês, trazem em seus elencos
atores mundialmente conhecidos como Sean Penn, Brad Pitt e Naomi Watts o que atesta
o prestígio alcançado por Iñárritu após seu primeiro filme, tais estrelas gostam de
alternar papéis em filmes mais comerciais com projetos mais densos e que os desafiem
enquanto atores o que sempre pode levá-los a receber prêmios.
 A montagem do filme está diretamente ligada ao que o diretor quer transmitir a
seu público; mais de um teórico já atestou que cinema é montagem, (Andrew, 1989,p.
52) e os três filmes aqui analisados se apóiam sobremaneira em sua montagem.
 Já se discutiu as características da narrativa fragmentada, a montagem bem
realizada vem confirmar as qualidades de um roteiro bem amarrado, onde o espectador
se mantém interessado o tempo todo, é preciso, no entanto, cuidado para não revelar
mais do que o necessário e comprometer o trabalho todo.                                                                            
Tal questão foi levantada na análise do filme 21 Gramas que em determinados
momentos trazia uma cena que mais à frente influenciava o desenvolvimento de uma
outra, “estragando” o caráter de ineditismo de uma seqüência.
 Tais problemas são mais comuns nesse filme que nos outros dois, em Amores
Brutos a montagem se mostra instintiva certamente por se tratar do primeiro filme do
diretor, já Babel  é montado com ações intercaladas a maioria no tempo presente.
 Os enquadramentos e os aspectos técnicos como luz e som podem ser vistos
como utilizados para trazer uma maior sensação de realismo ao espectador, a câmera
geralmente anda solta entre os personagens, ela não assume um ponto de vista estático
mas procura fazer parte do interior da ação que se desenvolve.
 A luz geralmente busca ser a mais natural possível, “estourada” durante cenas
diurnas e difusa em noturnas, sempre com  a intenção de funcionar como mais um aspecto que traga verossimilhança à  narrativa e o som segue o mesmo estilo,
trabalhando com ruídos e sujeiras comuns em cenas captadas fora de estúdio.
 Os filmes dirigidos por Alejandro  González Iñárritu apresentam temas
incômodos e problemas sociais os mais diversos, eles estão representados tanto em
personagens discriminados e marginalizados quanto no próprio ambiente das histórias.
 Em Amores Brutos a Cidade do México pode ser considerada uma personagem
do filme, pois tem grande influência sobre a vida dos outros personagens, ela se
apresenta uma metrópole rica na história da modelo e seu amante e pobre e miserável na
do ex-guerrilheiro, o diretor conseguiu extrair duas facetas da cidade que se evitam mas
que acabam sempre se misturando.
 Ainda no filme de estréia de Iñárritu, há temas como a violência doméstica
contra a mulher, a discriminação contra ex-presidiários, este último também presente
em 21 Gramas que agrega outros temas como o uso de drogas, o problema das pessoas
que dependem de um transplante de órgão para continuar a viver, o diretor, apesar de
tocar em temas fortes, nunca apela para a emoção fácil, apenas expõe pontos de vista.
 Já Babel trata de questões como a discriminação contra imigrantes personificada
na babá mexicana, o preconceito contra árabes travestido em medo de terroristas e ainda
as dificuldades de interação social de uma pessoa surda-muda.
      Ao apresentar tantas questões  polêmicas e infelizmente pouco discutidas, os
filmes de Iñárritu dão visibilidade para tais temas e contribuem na formação de uma
sociedade mais aberta ao diálogo e ao respeito das mais diferentes correntes ideológicas,
religiosas e econômicas, tais filmes porém, estão em falta na cinematografia mundial.        
Referências bibliográficas
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A. Pereira. Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 1963.
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Janeiro, Jorge Zahar Editor, 1989.    
MATTELART, Armand. Diversidade Cultural e Mundialização. São Paulo, Parábola
Editorial, 2005.
VANOYE, Francis & GOLIOT-LÉTÉ, Anne. Ensaio sobre a análise fílmica. Trad.
Marina Appenzeler. Campinas, Papirus Editora, 1994
GORDIRRO, André. ...Presente ... Revista SET. São Paulo: Ed. Peixes, n. 234, p. 34-
35, dez. 2006 SALEM, Rodrigo. 21 gramas. Revista SET. São Paulo: Ed. Peixes, n. 199, p. 64, jan.
2004.            
                                                   
1
João Paulo Palú  – Professor do Centro Universitário Senac – Campus Águas de São Pedro. Graduado
em Comunicação Social – Radialismo e Televisão  pela Universidade Metodista de Piracicaba e
mestrando em Comunicação da Faculdade de Arquitetura, Artes  e Comunicação da Universidade
Estadual Paulista (Unesp) - Campus de Bauru.
http://www.faac.unesp.br/publicacoes/anais-comunicacao/textos/05.pdf