Paris,
18 de março de 2012
«A
atualidade do surpreendente e preocupante debate que se desencadeou nessas
últimas semanas na mídia sobre o autismo e do seu «bom» tratamento me instiga a
expor tão objetivamente quanto possível, a minha experiência no percurso do meu
filho, e do meu, no combate que conduzimos frente ao autismo. Devo
primeiramente agradecer ao Campo Freudiano que me dá esta oportunidade, pois há
muito tempo que eu queria fazê-lo, e isso desde o nosso encontro com um
psicanalista, para testemunhar os resultados que foram obtidos.
Desde
seus sete ou oito meses eu tenho me preocupado; Pierre não balbuciava como as
outras crianças de sua idade. Eu então o confiei a um pediatra que tentou me
tranquilizar dizendo «não se preocupe, este é um bebê feliz».
Mas
alguma coisa me impedia de me contentar com essa resposta, pois eu sentia que
ele tinha um comportamento diferente daquele dos outros bebês, apesar dele
estar evoluindo fisicamente de forma normal.
Por
volta da idade de dois anos, quando conheceu outras crianças de sua idade,
ficou evidente não só que ele ainda não falava, mas, em revide, era muito
agressivo, puxava-lhes os cabelos e os mordia. Era muito difícil acalmá-lo. O
pediatra da época pouco se importava e começava a me dar conselhos sobre
educação… que aumentavam a minha culpa por não saber como lidar com meu filho:
em suma, eu era considerada uma má mãe. A culpabilidade crescente me dominava e
me fixava na minha «incompetência» materna.
Esclareço
que Pierre é o primeiro dos meus filhos...
Pierre
passava muito tempo deitado no chão com seus carrinhos, sem exprimir a menor
emoção, muitas vezes ausente. Desconhecendo outras opções possíveis, eu
persistia na via da medicina tradicional.
Foi
realizada uma consulta no hospital, com um neurologista. Expliquei o seu
comportamento e, especialmente, o fato de que ele não falava. Um
eletroencefalograma foi realizado, e daí o golpe: «seu cérebro é imaturo».
Intuitivamente, eu não podia acreditar nisso, ele só tinha dois anos e meio! O
médico decidiu prescrever Ritalina a ele.
À minha
questão «por quanto tempo?», ele respondeu, provavelmente sem medir o impacto
das suas palavras de autoridade: «por toda a vida»! No meu desespero, de início
eu queria, apesar de tudo, confiar e comecei a aplicar seu tratamento. Após
sete dias, Pierre estava ainda mais agitado, e eu, por mim mesma, resolvi
parar, sem a aprovação do médico.
Estávamos
então completamente desamparados e impotentes diante «dessa coisa» que não
conhecíamos; não obstante continuamos a procurar «a» solução na medicina
hospitalar: pediatras, fonoaudiógos, psiquiatras. Pierre igualmente se fechava
em seu silêncio.
Entrementes,
tentamos matricular nosso filho no jardim da infância. Já no primeiro dia me
pediram para ir buscá-lo. Pierre não ficou mais que dois dias na escola. Esse
foi um fracasso e, uma vez mais, sem perspectiva.
Meu
desejo de ouvi-lo falar me levou a fazer uma consulta no hospital, não com um
médico, mas com um fonoaudiólogo que nos fez vislumbrar uma esperança
aconselhando-nos a encontrar um Psicanalista que trabalhava na cidade e que
estava tratando crianças autistas em um hospital-dia.
Esse
foi o encontro mais importante de sua jovem vida – e da minha! Eu havia passado
cinco anos me culpando cada vez mais, ao receber os conselhos dos médicos, até
mesmo de meus próximos, sem obter qualquer progresso.
Eu
entrevia o autismo do meu filho, mas me recusava a abandoná-lo nisso. Eu tinha
[feito] «MAL A MEU FILHO», mal por não ter resposta, pior ainda porque ninguém
podia aliviar o sofrimento de Pierre, nem o meu.
Na
primeira entrevista da família com o psicanalista, nós fomos enfim ouvidos e
saímos mais serenos: tínhamos talvez encontrado um novo caminho?
As
consultas foram agendadas duas vezes por semana.
Ele
continuava não falando, mas eu entendia. Eu me fechava com ele em seu autismo,
e o encerrava comigo nessa relação «fusional», eu compreendia sua linguagem!!!
Mas não era esta língua inventada entre nós dois que poderia tirá-lo daí, mas
sim o seu encontro com o outro.
Eu
pude, com esse psicanalista, me desfazer dessa culpa que acabava por obstruir
meu desejo de tirá-lo do seu estado. Eu não assistia às consultas de meu filho.
Nós fazíamos uma avaliação todos os meses, a nosso pedido e ao do psicanalista.
Nisso,
onde estava Pierre?
Após o
insucesso no sistema escolar regular, nós o confiamos a um hospital-dia quando
ele completou sete anos. Esse sistema nos parecia adequado e para facilitar a
escolarização de Pierre algumas horas de aprendizagem estavam previstas.
Paralelamente,
eu queria que ele continuasse suas seções com o Psicanalista. A «palavra»
tornou-se essencial para nós.
Depois
de seis meses, coloquei a questão da leitura e da escrita ao responsável pelo
hospital, que me respondeu: «seu filho nunca será capaz de aprender a ler e a
escrever». Para mim, essa afirmação definitiva, esse modo de colocar meu filho
em um «escaninho», de encerrá-lo no «impossível», não fez mais do que me
fortalecer no caminho aberto pelo encontro com o Psicanalista a quem confiei o
tratamento de meu filho. Fato importante é que pude também me livrar muito da
minha angústia, da minha culpa e encontrar o prazer de aprender, com meu filho,
a me comunicar melhor.
Resultado:
sua linguagem se estruturava, ele se comunicava muito melhor e a palavra
substituía a agressividade.
Uma
escola privada, com poucos alunos, aceitou receber Pierre, ele aprendeu
a ler e a escrever em três meses. Duas vezes por semana, ele
continuava a ver seu Psicanalista.
Ele
progredia e eu aprendi com ele que cada detalhe, feito de pequenas coisas
insignificantes para os outros, podia para ele tornar-se uma nova abertura para
um futuro…
Foi
dessa forma que ele pode prosseguir seus estudos até o secundário, momento em
que expressou claramente que não queria mais continuar na escola, tinha
atingido um limite. Nós o ouvimos e acatamos a sua decisão.
Concomitantemente,
havia decidido fazer uma nova aprendizagem no mundo do esporte equestre, que o
interessava muito desde que começou a montar pônei, há três anos. Não foi uma
jornada fácil para ele, mas isso ele realmente queria e, para chegar aí,
manifestou uma vontade de ferro, insuspeitável, especialmente quando se sabe de
onde ele veio…
Continuou
com o Psicanalista durante dez anos. Depois disso queria absolutamente se inserir
no mundo do trabalho. Ele mesmo fez suas pesquisas, seus contatos e conseguiu,
sozinho, entrevistas de emprego com um status de trabalhador deficiente. Ele
queria provar que poderia ser útil se confiassem nele. Claro que conversamos
muito, que o acompanhamos de perto, mas sempre cuidando para respeitar
rigorosamente sua vontade própria. O que é surpreendente, é que, apesar das
dificuldades e obstáculos, Pierre sempre manteve sua palavra quando se
comprometia a realizar alguma coisa.
Depois
de um estágio de dois anos em um centro equestre, onde trabalhou sem contar as
horas, encontrou um emprego como treinador de cavalos em um importante centro
na região parisiense. Pierre trabalha lá faz sete anos agora! Seu empregador
lhe deu a chance, ele diz que ele «É muito humano». Tem a sua casa, cuida de
suas corridas, prepara suas refeições, e tem muitos interesses e curiosidades
graças, entre outras, à Internet também. É muito apreciado pelos clientes do
centro equestre e por todas as crianças que ele inicia na equitação. Quando
alguém confia nele, Pierre é capaz de organizar seu trabalho, e até mesmo de
trazer novas idéias para desenvolver a atividade do pônei clube onde ele tem
alguma responsabilidade. Certamente é confrontado "a alguns outros"
que às vezes não o respeitam, mas hoje é bem capaz de se defender e de dizer
por exemplo: "esse homem é malévolo, ele me toma por um idiota, mas eu sou
mais esperto do que ele pensa".
Pierre
tem hoje 32 anos: A psicanálise lhe deu o sentido do humano!
Nossa
experiência familiar nos mostra como a psicanálise faz parte das «boas
práticas» relativas ao autismo; encontramos nela uma nova orientação para
Pierre, exclusivamente pela palavra e sem nenhuma prescrição medicamentosa.
Espero
que este testemunho (com o acordo de Pierre) possa ser ouvido por outros pais
interessados no autismo.
Vejam que ela foi a solução tanto procurada: A PSICANÁLISE.
Vejam que ela foi a solução tanto procurada: A PSICANÁLISE.
Ouçam
as experiências positivas!
«Sair
do confinamento e não se deixar submeter a um outro».
NÚMERO 182
Eu não perderia um seminário por nada nesse mundo - PHILIPPE SOLLERS
Ganharemos porque não temos escolha - AGNÈS AFLALO
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