segunda-feira, 21 de maio de 2012

O testemunho de Elisabeth Legrand«Sair do confinamentoe não se deixar submeter a um outro»



Paris, 18 de março de 2012

«A atualidade do surpreendente e preocupante debate que se desencadeou nessas últimas semanas na mídia sobre o autismo e do seu «bom» tratamento me instiga a expor tão objetivamente quanto possível, a minha experiência no percurso do meu filho, e do meu, no combate que conduzimos frente ao autismo. Devo primeiramente agradecer ao Campo Freudiano que me dá esta oportunidade, pois há muito tempo que eu queria fazê-lo, e isso desde o nosso encontro com um psicanalista, para testemunhar os resultados que foram obtidos.
Desde seus sete ou oito meses eu tenho me preocupado; Pierre não balbuciava como as outras crianças de sua idade. Eu então o confiei a um pediatra que tentou me tranquilizar dizendo «não se preocupe, este é um bebê feliz».
Mas alguma coisa me impedia de me contentar com essa resposta, pois eu sentia que ele tinha um comportamento diferente daquele dos outros bebês, apesar dele estar evoluindo fisicamente de forma normal.
Por volta da idade de dois anos, quando conheceu outras crianças de sua idade, ficou evidente não só que ele ainda não falava, mas, em revide, era muito agressivo, puxava-lhes os cabelos e os mordia. Era muito difícil acalmá-lo. O pediatra da época pouco se importava e começava a me dar conselhos sobre educação… que aumentavam a minha culpa por não saber como lidar com meu filho: em suma, eu era considerada uma má mãe. A culpabilidade crescente me dominava e me fixava na minha «incompetência» materna.
Esclareço que Pierre é o primeiro dos meus filhos...
Pierre passava muito tempo deitado no chão com seus carrinhos, sem exprimir a menor emoção, muitas vezes ausente. Desconhecendo outras opções possíveis, eu persistia na via da medicina tradicional.
Foi realizada uma consulta no hospital, com um neurologista. Expliquei o seu comportamento e, especialmente, o fato de que ele não falava. Um eletroencefalograma foi realizado, e daí o golpe: «seu cérebro é imaturo». Intuitivamente, eu não podia acreditar nisso, ele só tinha dois anos e meio! O médico decidiu prescrever Ritalina a ele.
À minha questão «por quanto tempo?», ele respondeu, provavelmente sem medir o impacto das suas palavras de autoridade: «por toda a vida»! No meu desespero, de início eu queria, apesar de tudo, confiar e comecei a aplicar seu tratamento. Após sete dias, Pierre estava ainda mais agitado, e eu, por mim mesma, resolvi parar, sem a aprovação do médico.
Estávamos então completamente desamparados e impotentes diante «dessa coisa» que não conhecíamos; não obstante continuamos a procurar «a» solução na medicina hospitalar: pediatras, fonoaudiógos, psiquiatras. Pierre igualmente se fechava em seu silêncio.
Entrementes, tentamos matricular nosso filho no jardim da infância. Já no primeiro dia me pediram para ir buscá-lo. Pierre não ficou mais que dois dias na escola. Esse foi um fracasso e, uma vez mais, sem perspectiva.
Meu desejo de ouvi-lo falar me levou a fazer uma consulta no hospital, não com um médico, mas com um fonoaudiólogo que nos fez vislumbrar uma esperança aconselhando-nos a encontrar um Psicanalista que trabalhava na cidade e que estava tratando crianças autistas em um hospital-dia.
Esse foi o encontro mais importante de sua jovem vida – e da minha! Eu havia passado cinco anos me culpando cada vez mais, ao receber os conselhos dos médicos, até mesmo de meus próximos, sem obter qualquer progresso.
Eu entrevia o autismo do meu filho, mas me recusava a abandoná-lo nisso. Eu tinha [feito] «MAL A MEU FILHO», mal por não ter resposta, pior ainda porque ninguém podia aliviar o sofrimento de Pierre, nem o meu.
Na primeira entrevista da família com o psicanalista, nós fomos enfim ouvidos e saímos mais serenos: tínhamos talvez encontrado um novo caminho?
As consultas foram agendadas duas vezes por semana.
Ele continuava não falando, mas eu entendia. Eu me fechava com ele em seu autismo, e o encerrava comigo nessa relação «fusional», eu compreendia sua linguagem!!! Mas não era esta língua inventada entre nós dois que poderia tirá-lo daí, mas sim o seu encontro com o outro.

Eu pude, com esse psicanalista, me desfazer dessa culpa que acabava por obstruir meu desejo de tirá-lo do seu estado. Eu não assistia às consultas de meu filho. Nós fazíamos uma avaliação todos os meses, a nosso pedido e ao do psicanalista.
Nisso, onde estava Pierre?
Após o insucesso no sistema escolar regular, nós o confiamos a um hospital-dia quando ele completou sete anos. Esse sistema nos parecia adequado e para facilitar a escolarização de Pierre algumas horas de aprendizagem estavam previstas.
Paralelamente, eu queria que ele continuasse suas seções com o Psicanalista. A «palavra» tornou-se essencial para nós.
Depois de seis meses, coloquei a questão da leitura e da escrita ao responsável pelo hospital, que me respondeu: «seu filho nunca será capaz de aprender a ler e a escrever». Para mim, essa afirmação definitiva, esse modo de colocar meu filho em um «escaninho», de encerrá-lo no «impossível», não fez mais do que me fortalecer no caminho aberto pelo encontro com o Psicanalista a quem confiei o tratamento de meu filho. Fato importante é que pude também me livrar muito da minha angústia, da minha culpa e encontrar o prazer de aprender, com meu filho, a me comunicar melhor.
Resultado: sua linguagem se estruturava, ele se comunicava muito melhor e a palavra substituía a agressividade.
Uma escola privada, com poucos alunos, aceitou receber Pierre, ele aprendeu a ler e a escrever em três meses. Duas vezes por semana, ele continuava a ver seu Psicanalista.
Ele progredia e eu aprendi com ele que cada detalhe, feito de pequenas coisas insignificantes para os outros, podia para ele tornar-se uma nova abertura para um futuro…
Foi dessa forma que ele pode prosseguir seus estudos até o secundário, momento em que expressou claramente que não queria mais continuar na escola, tinha atingido um limite. Nós o ouvimos e acatamos a sua decisão.
Concomitantemente, havia decidido fazer uma nova aprendizagem no mundo do esporte equestre, que o interessava muito desde que começou a montar pônei, há três anos. Não foi uma jornada fácil para ele, mas isso ele realmente queria e, para chegar aí, manifestou uma vontade de ferro, insuspeitável, especialmente quando se sabe de onde ele veio…
Continuou com o Psicanalista durante dez anos. Depois disso queria absolutamente se inserir no mundo do trabalho. Ele mesmo fez suas pesquisas, seus contatos e conseguiu, sozinho, entrevistas de emprego com um status de trabalhador deficiente. Ele queria provar que poderia ser útil se confiassem nele. Claro que conversamos muito, que o acompanhamos de perto, mas sempre cuidando para respeitar rigorosamente sua vontade própria. O que é surpreendente, é que, apesar das dificuldades e obstáculos, Pierre sempre manteve sua palavra quando se comprometia a realizar alguma coisa.

Depois de um estágio de dois anos em um centro equestre, onde trabalhou sem contar as horas, encontrou um emprego como treinador de cavalos em um importante centro na região parisiense. Pierre trabalha lá faz sete anos agora! Seu empregador lhe deu a chance, ele diz que ele «É muito humano». Tem a sua casa, cuida de suas corridas, prepara suas refeições, e tem muitos interesses e curiosidades graças, entre outras, à Internet também. É muito apreciado pelos clientes do centro equestre e por todas as crianças que ele inicia na equitação. Quando alguém confia nele, Pierre é capaz de organizar seu trabalho, e até mesmo de trazer novas idéias para desenvolver a atividade do pônei clube onde ele tem alguma responsabilidade. Certamente é confrontado "a alguns outros" que às vezes não o respeitam, mas hoje é bem capaz de se defender e de dizer por exemplo: "esse homem é malévolo, ele me toma por um idiota, mas eu sou mais esperto do que ele pensa".
Pierre tem hoje 32 anos: A psicanálise lhe deu o sentido do humano!
Nossa experiência familiar nos mostra como a psicanálise faz parte das «boas práticas» relativas ao autismo; encontramos nela uma nova orientação para Pierre, exclusivamente pela palavra e sem nenhuma prescrição medicamentosa.
Espero que este testemunho (com o acordo de Pierre) possa ser ouvido por outros pais interessados no autismo.            
Vejam que ela foi a solução tanto procurada: A PSICANÁLISE.
Ouçam as experiências positivas!
«Sair do confinamento e não se deixar submeter a um outro».
NÚMERO 182
Eu não perderia um seminário por nada nesse mundo - PHILIPPE SOLLERS
Ganharemos porque não temos escolha - AGNÈS AFLALO

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