terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Crítica: 'A chave de Sarah'

Jornal do BrasilJulia Moura
Esta não é uma obra histórica e não tem a intenção de sê-lo. Esta é a minha homenagem às crianças do Vel' d'Hiv. Às crianças que nunca mais voltaram. E àquelas que sobreviveram para contar". É assim que Tatiana de Rosnay apresenta sua obra A chave de Sarah, cuja adaptação para as telonas estreia nesta sexta-feira (18) no circuito.
Bastante fiel ao livro, o longa de Gilles Paquet-Brennerr conta a história da jornalista Julia Jarmond (Kristin Scott Thomas, garoto de Liverpool), uma americana radicada em Paris com a tarefa de fazer um artigo sobre a prisão, em 16 de julho de 1942, de 13 mil judeus no Vélodrome d'Hiver. Todos à espera do trem que os levaria para Auschwitz. 
Ao apurar a reportagem, Julia descobre que os franceses preferiram esquecer essa história e que o apartamento para o qual ela e o marido planejam se mudar pertenceu a família de Sarah Starzynki (a excelente Mélusine Mayance). Assim como na obra de Tatiana de Rosnay, a trama do filme se passa em dois períodos, 1942 e 2009 (no livro, em 2002). A forma como os tempos se entrelaçam é muito bem orquestrada. O sofrimento retratado nos campos de concentração emociona, e grande parte do êxito fica a cargo do elenco principal composto também por Natasha Mashkevich e Arben Bajraktaraj, que interpretam os pais de Sarah. A menina Rachel (Sarah Ber) também merece destaque.
A falta de imagens do acontecimento "apagado" pelos franceses parece ser compensada com imagens emocionantes trazidas pelo longa e que nos transportam para o sofrimento de Sarah. Sua maior angústia no meio de tudo é a esperança de resgatar o irmão, preso por ela mesma no armário de casa. A intenção era apenas protegê-lo. 
Enquanto essa expectativa existe (a do reencontro), o filme é impecável - roteiro, direção, trilha sonora, atuação, ... O problema aparece perto do fim, quando a história de Julia começa a ter um enfoque maior que o necessário. Nesse momento, o filme se aproxima do melodrama e dá uma solução errada para algo que começou tão bem. A mesma falha acontece no livro.
Apesar disso, o filme continua sendo um excelente retrato do sofrimento de muitos judeus e um bom símbolo de perseverança. No livro, Julia afirma que Sarah nunca a deixou, que ela a havia modificado para sempre. Sua história, seu sofrimento. É mais ou menos essa a sensação que o espectador vai ter quando terminar as páginas ou quando subirem os créditos.
Cotação: *** (Ótimo)

A menina Sarah Starzynski (Mélusine Mayance) vai fazer de tudo para salvar seu irmão
Miniatura

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