domingo, 27 de novembro de 2011

ATO DE FUNDAÇÃO


Este objetivo de trabalho é indissociável de uma formação a ser dispensada nesse movimento de reconquista. O que equivale a dizer que a ela estão habilitados de pleno direito aqueles que eu mesmo formei, e que para ela estão convidados todos os que puderem contribuir para introduzir, dessa formação, a fundamentação da experiência.


Os que vierem para esta Escola se comprometerão a cumprir uma tarefa sujeita a um controle interno e externo. É-lhes assegurado, em troca, que nada será poupado para que tudo o que eles fizerem de válido tenha a repercussão que merecer, e no lugar que convier.


Para a execução do trabalho, adotaremos o princípio de uma elaboração apoiada num pequeno grupo. Cada um deles (temos um nome para designar esses grupos) se comporá de no mínimo três pessoas e no máximo cinco, sendo quatro a justa medida. MAIS UM encarregado da seleção, da discussão e do destino a ser reservado ao trabalho de cada um.


Após um certo tempo de funcionamento, os componentes de um grupo verão ser-lhes proposta a permuta para outro.


O cargo de direção não constituirá uma chefia cujo serviço prestado seja capitalizado para o acesso a um grau superior, e ninguém deverá considerar-se rebaixado por voltar para a categoria de um trabalho de base.


Isso porque toda e qualquer iniciativa pessoal recolocará seu autor nas condições de crítica e de supervisão nas quais todo trabalho a ser empreendido será submetido à Escola.
Isso não implica, de modo algum, uma hierarquia de cima para baixo, mas uma organização circular cujo funcionamento, fácil de programar, se firmará na experiência.
Os problemas urgentes a serem formulados sobre todas as questões da didática encontrarão aqui meios de ter seu caminho aberto por um confronto contínuo entre pessoas que tenham experiência com a didática e candidatos em formação. Sua razão de ser fundamenta-se naquilo que não há por que ocultar: a saber, na necessidade que resulta das exigências profissionais, toda vez que elas levam o analisando em formação a assumir uma responsabilidade minimamente analítica.


É no interior desse problema e como um caso particular que deve situar-se o problema da entrada em supervisão. Prelúdio para que se defina esse caso com base em critérios outros que não a impressão de todos e o preconceito de cada um. Pois sabemos que essa é, atualmente, sua única lei, ao passo que a violação da regra implicada na observância de suas formas é permanente.


Desde o início e na totalidade dos casos, uma supervisão qualificada será assegurada, nesse contexto, ao praticante em formação em nossa Escola.


Serão propostos para o estudo assim instaurado os aspectos pelos quais eu mesmo rompo com os padrões afirmados na prática didática, assim como os efeitos imputados a meu ensino sobre o curso de minhas análises, quando suceder a meus analisandos, a título de alunos, assistirem a eles. Incluiremos nisso, se necessário, os únicos impasses a serem preservados de minha posição em tal Escola, ou seja, aqueles que a própria indução a que visa meu ensino engendrar em seu trabalho.


Esses estudos, cujo auge é o questionamento da rotina estabelecida, serão coligidos pela diretoria da seção, que zelará pelos caminhos mais propícios para sustentar os efeitos de sua solicitação.
Três subseções:
 Doutrina da psicanálise pura;
 Crítica interna de sua práxis como formação;
 Supervisão dos psicanalistas em formação.
Postulo enfim, como princípio de doutrina, que essa seção, a primeira, bem como aquela de cuja destinação falarei no item 3, não se deterá, em seu recrutamento, na qualificação médica, posto não ser a psicanálise pura, em si mesma, uma técnica terapêutica.
2. Seção de psicanálise aplicada , o que quer dizer de terapêutica e clínica médica.
Nela haverá grupos médicos, sejam eles ou não compostos de sujeitos psicanalisados, desde que estejam em condição de contribuir para a experiência psicanalítica: pela crítica de suas indicações em seus resultados; pela verificação dos termos categóricos e das estruturas que introduzi como sustentando a linha direta da práxis freudiana ¾ isso no exame clínico, nas definições nosográficas e na própria formulação dos projetos terapêuticos.


Também aqui, três subseções:
 Doutrina do tratamento e de suas variações;
 Casuística;
 Informação psiquiátrica e prospecção médica.
Uma diretoria para autenticar cada trabalho como sendo da Escola, e tal que sua composição elimine qualquer conformismo preconcebido.

3. Seção de recenseamento do Campo Freudiano

Ela assegurará, para começar, a exposição e a censura crítica de tudo o que é oferecido nesse campo pelas publicações que se pretendem autorizadas por ele.


Ela fará a divulgação dos princípios dos quais a práxis analítica deve receber, na ciência, seu estatuto. Um estatuto que, por mais particular que afinal seja preciso reconhecê-lo, não pode ser o de uma experiência inefável.


Por último, ela convocará, tanto para instruir nossa experiência quanto para comunicá-la, aquilo que, do estruturalismo instaurado em certas ciências, puder esclarecer aquele cuja função demonstrei na nossa - e, no sentido inverso, aquilo que, de nossa subjetivação, essas mesmas ciências puderem receber de inspiração complementar.


Em última instância, faz-se necessária uma adaptação da teoria, sem a qual a ordem de afinidades desenhada pelas ciências que chamamos conjecturais ficará à mercê da deriva política que se eleva da ilusão de um condicionamento universal.


Portanto, também três subseções:
 Comentário contínuo do movimento psicanalítico;
 Articulação com as ciências afins.
 Ética da psicanálise, que é a práxis de sua teoria.
A verba financeira, inicialmente constituída pela contribuição dos membros da Escola, pelas subvenções que ela eventualmente obtiver, ou pelos serviços que prestar como Escola, será inteiramente reservada para seu esforço de publicação.


Em primeiro lugar, um anuário reunirá os títulos e o resumo dos trabalhos, onde quer que tenham sido publicados, da Escola, anuário este em que figurarão, mediante sua simples demanda, todos os que houverem estado assim empenhados.


Aderir-se-á à Escola apresentando-se a ela num grupo de trabalho, constituído como dissemos.


A admissão, no início, será decidida por mim, sem que eu leve em conta as posições tomadas por qualquer um, no passado, a respeito de minha pessoa, certo que estou de que aqueles que me deixaram, não sou eu quem lhes quero mal, eles é que terão cada vez mais aversão a mim por não poderem voltar atrás.


Minha resposta, de resto, concernirá apenas ao que eu puder presumir ou constatar a título do valor do grupo e do lugar que ele pretender preencher inicialmente.


A organização da Escola, com base no princípio de rotatividade que indiquei, será dada aos cuidados de uma comissão aprovada por uma primeira assembléia plenária, que se realizará dentro de um ano. Essa comissão a elaborará com base na experiência percorrida ao término do segundo ano, quando uma segunda assembléia terá que aprová-la.

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