“Prezado Professor Freud,
A proposta da Liga das Nações e seu Instituto Internacional para Cooperação Intelectual, em Paris, de que eu convidasse uma pessoa para um franco intercâmbio de pontos de vista sobre algum problema que eu poderia selecionar, oferece-me oportunidade de conferenciar com o senhor a respeito de uma questão, que parece ser o mais urgente de todos os problemas que a civilização tem de enfrentar. Este é o problema: Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?
Sabemos que estamos longe de possuir qualquer organização supranacional competente para emitir julgamentos de autoridade incontestável e garantir absoluto acatamento à execução de seus veredictos. Mas a busca da segurança internacional envolve a renúncia incondicional, por todas as nações, em determinada medida, à sua liberdade de ação, ou seja, à sua soberania.
Não há dúvida de que estão em jogo fatores psicológicos de peso que paralisam os esforços no sentido de resolver esta questão. Alguns destes fatores são mais fáceis de detectar. O intenso desejo de poder, que caracteriza a classe governante em cada nação, sem dúvida é hostil a qualquer limitação de sua soberania nacional. Essa fome de poder político soma-se às aspirações econômicas puramente mercenárias de um outro grupo, que se considera a guerra, a fabricação e venda de armas como uma oportunidade de expansão de seus interesses pessoais. Mas, como é possível essa pequena corja dobrar a vontade da maioria, que se resigna a perder e a sofrer com uma situação de guerra, a serviço da ambição de poucos? Parece que uma resposta óbvia a essa pergunta seria que a minoria, a classe dominante atual, possui as escolas, a imprensa e, geralmente, também a Igreja, sob seu poderio. Isso possibilita organizar e dominar as emoções das massas e torná-las instrumento da mesma minoria. Mas como esses mecanismos conseguem tão bem despertar nos homens um entusiasmo extremado, a ponto de estes sacrificarem suas vidas? Pode haver apenas uma resposta. É porque o homem encerra dentro de si um desejo de ódio e destruição latente.
Com isso chegamos a nossa última questão: É possível controlar a evolução da mente do homem de modo a torná-lo à prova das psicoses do ódio e da destrutividade? Aqui não me estou referindo somente às chamadas massas incultas. A experiência prova que é, antes, a chamada 'Intelligentzia' a mais inclinada a ceder a estas desastrosas sugestões coletivas, já que o intelectual não tem contato direto com o lado rude da vida.
Somente falei das guerras entre nações, mas estou bem consciente de que o instinto agressivo opera sobre outras formas e em outras circunstâncias, por exemplo nas guerras civis devidas à intolerância religiosa e também nas perseguições a minorias raciais. Seria da maior utilidade para nós todos que o senhor apresentasse o problema da paz mundial sob o enfoque de suas mais recentes descobertas, para que pudéssemos demarcar um caminho para novos e frutíferos métodos de ação.
Muito cordialmente,
Albert Einstein
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