sábado, 24 de novembro de 2012

TODA LÍNGUA É POESIA. UMA CONVERSA COM ERIN MOURE

http://www.revistazunai.com/entrevistas/erin_moure.htm

Por Gleuza Salomon

Erin Moure mora em Montreal (Quebec), no Canadá. Lá mesmo ela iniciou sua obra poética, em 1976. O seu primeiro livro foi lançado em 1979. É poeta em inglês, traduziu do francês Nicole Brossard e alguns trechos de Christophe Tarkos, além do galego Chus Pato. Verteu para o inglês Fernando Pessoa.
Um fato inédito: o que seria o intraduzível portunhol (português e espanhol), além do guarani que são marcas de Mar Paraguayo, novela do escritor brasileiro Wilson Bueno, publicada em vários países, é reinventada pela poeta canadense Erin Moure, em francenglish (francês e inglês). Escolhe, por exemplo, algumas palavras do mohwak e as insere substituindo as palavras do guarani, como kania:tare - large body of water (muita água); kaniatara'ko:wa'- ocean (oceano); khe'kenhren'stha- I humiliate someone (eu humilho alguém).
O interesse de Moure por Mar Paraguayo advém de sua própria experiência em ter como língua materna o frores, dialeto medieval de híbridos do galego e do português, além do fato de vivenciar duas línguas: o inglês de sua infância e, na atualidade, o francês não mesclado pela língua autóctone - oportunidade em que se discute o pulsante ressurgir do racismo. Recentemente no Canadá francofalante se esboçou esta problemática concernente ao colonialismo francês no Quebec. Vemos que isso não se dirige apenas à língua francesa e aos franceses. Nesta cidade francofalante coexiste a exclusão do mohawk, uma língua indígena autóctone da região de Montreal.
Vê-se mais claramente neste trabalho de tradução os três extratos de línguas na composição da escritura de Mar Paraguayo: um bordado que o autor tece entre o portunhol e o guarani, compondo uma literatura de tecido lingüístico infinito. Identifica-se nessa tessitura uma funcionalidade que se aproxima do guarani jopara. Seriam as bricolagens de novas palavras, o que cotidianamente, tanto brasiguaios como paraguaios, inventam nos seus falares fronteiriços do portuñol e do jopara? Leiam a seguir, a entrevista:
Zunái: Você é canadense. Como foi a descoberta da origem galega do seu sobrenome, Moure?
Erin Moure: Foi surpreendente. Meu pai sempre disse que nosso sobrenome é espanhol, mas os espanhóis a quem perguntei me disseram que não. Quando encontramos, meu pai e eu, os papéis pertencentes ao meu avô paterno, guardados durante anos, na casa familiar em Otawa, foi uma revelação. Naquele momento, soubemos de onde veio meu bisavô paterno, Bieito Moure Lobariñas, que emigrou em 1848 para Paris e depois foi para Londres: da Galícia! Já na primeira vez que fui para lá, fiquei encantada. Logo aprendi o idioma e descobri que posso ler igualmente em português. Traduzi Pessoa, Chus Pato e agora alguma coisa do Crebreiro e de Daniel Salgado, para ajudá-los a participar de festivais na Europa. Não só os anglo-falantes (anglo-saxões) os lêem em inglês, mas também os eslovenos e outros.
Zunái: Ao se descobrir bisneta de galego, o que mudou em você? Esta pergunta decorre da sua própria resposta para a A nosa terra (histórica publicação da Galícia, hoje semanário e também na internet), ao dizer que "En galego, o meu xeito de pensar cambia".
EM: Pois muda, mudou. Falar outro idioma elaborado e histórico, a embasar uma literatura tão formosa, é um privilégio enorme para mim. Agora vejo melhor como os galegos percebem o mundo, como recebem o seu lugar nesse mundo. Ao saber isso, acolho o meu próprio lugar, Montreal e Canadá, de jeito diferente.
Zunái: Traduzir Fernando Pessoa para o inglês aproximou-a mais - na condição de leitora - da língua portuguesa. Isto também trouxe alguma mudança em você? Há quem diga que o galego é uma língua em extinção, assim como escrever em português seria o mesmo que "não ser lido". O seu desejo de escrever em galego e criar poemas em inglês, a partir das cantigas medievais em galaico-português, se manifesta no seu livro, recém-lançado,  O cadoiro. Frise-se que, com esse trabalho, você faz a sua parte para que essas línguas continuem existindo, ao poderem ser lidas também pelos anglo-saxões. Pergunto-lhe se você inclui nexo político em seu fazer poético?
EM: Sim, há algo político neste fazer. Aprender a falar uma língua de pouca repercussão - e não em extinção! - significa dizer que há coisas para pensar e para viver fora do império americano. É importante que um idioma, seja qual for, para sobreviver, tenha que formar novos falantes. Como eu!
Zunái: Mudando um pouquinho de assunto, pude ver no Google que você faz performances, poderia falar sobre isto?
EM: Pois recito de maneira performática. Sempre recitei sem palco, com o corpo visível, sem me esconder. A voz é também importante para mim. E olho para o público. A leitura de poemas e a performance são dois aspectos relacionados, coligados.
Zunái: Como você atrai o público para a poesia? É necessário criá-lo, formá-lo, provocá-lo? Nesse sentido, qual é para você o papel dos meios de comunicação? E nesses múltiplos suportes à palavra, à poesia, à literatura enfim, que futuro você vê para o livro?
EM: Respeito muito o público, provocamo-nos juntos. E penso que os novos suportes para publicação - Internet e outros - são bem interessantes. Temos que multiplicar esses suportes e as maneiras de compartilhar a poesia. E o livro? - o livro é uma coisa muito flexível, muito formosa, não vai desaparecer. Penso que ainda temos muito o que aprender.
Zunái: Fale-nos do seu encontro com as línguas transfronteiriças e da sua experiência com o portunhol e o guarani, sobretudo inscritos em Mar Paraguayo, de Wilson Bueno. E, de você, Erin, que teve como língua materna o frores, além do silêncio que te cercava em sua cidade natal, Calgary, onde só se fala o inglês.
EM: Para mim Mar Paraguayo é um livro transfronteiro por excelência. É visível que eu ame muito este farfalhar entre os sons e as palavras na sua prosa poética, sua poesia em prosa. Para mim é muito importante que as fronteiras mexam-se, que não sejam tão fixas como imaginávamos. É necessário tornar visível a sua porosidade. Para mim, a ética reside nisso, no encontro que ocorre entre as línguas e as pessoas.
Zunái: Como foi que você percebeu que a língua inventada por Wilson Bueno em Mar Paraguayo, o portunhol, poderia vir a ser traduzida para o francenglish e o guarani para o mohwak, a língua indígena canadense?
EM: Eu moro num lugar onde o inglês está atravessado pelo francês. Trata-se de um inglês deformado e reformado, ondulante e leve que existe num contorno francofalante. Não é, no entanto, mestiçado com o mohawk, mas eu acrescentei algumas palavras desta língua para traduzir o portunhol-guarani de Bueno, porque os mohawks são os indígenas daqui, deste lugar, onde está a cidade de Montreal. A história da colonização européia é muito diferente no norte, no Canadá, como também do Brasil. Por exemplo aqui tivemos dois colonizadores, os franceses e os ingleses, e a tensão histórica entre os dois grupos (para explorar os indígenas, é claro) teve suas conseqüências. Eu não sou nem de um grupo, nem do outro. Eu convivo com o francês e também falo inglês porque cresci nas terras anglófonas, que se situam mais ao Oeste.
Zunái: Do francenglish, em sua nota de página dos fragmentos já traduzidos de Mar Paraguayo, você informa textualmente que "o francês que se fala na cidade de Montreal está cercado e infiltrado pelo inglês falado na América do Norte. O portunhol de Bueno, sua mescla transfronteiriça de português com espanhol, neste texto é traduzido para o francês e inglês de modo casual, assim como ele chega a mim eu o falo." Por quê?
EM: Talvez seja porque eu habite entre estas duas línguas, o inglês e o francês, e ainda uma terceira, o galego, e mais as palavras que me atravessam em vários idiomas. Eu acolho o portunhol a partir de minhas experiências com essas línguas, experiências impossíveis de serem encontradas na América do Norte. Então, no portunhol de Wilson Bueno, eu encontro um irmão ao Sul.
Zunái: Explique-nos a transfronteiridade lingüística, e o porquê de não ter encontrado todas as palavras mohawk para traduzir o guarani.
EM: Eu traduzi as palavras de Bueno em guarani pelas de mohawk, sim. Sem conhecer o mohawk, e utilizando um dicionário. Só queria estabelecer a tradução conservando os três idiomas para mostrar ao público inglês, a variedade e a vitalidade do texto de Bueno.
Zunái: Ainda dentro da mesma questão, o português do Brasil incorporou várias palavras do guarani. No francês de Quebec, isso aconteceu com o mohawk?
EM: O mohawk não ocupa a mesma posição que a língua colonizadora (o francês, ou mesmo o inglês), assim como o guarani ocupa um lugar na língua brasileira. Parece-me que o brasileiro inscreveu na língua portuguesa (colonizadora) muitas palavras do guarani, como o espanhol do Chile por exemplo com as palavras aymara. Mas não fiz pesquisas e as minhas conclusões não têm nada de científicas! No entanto, temos em Quebec e no oeste do Canadá muitos nomes advindos dos idiomas indígenas. E existe no oeste do Canadá um idioma mesclado, um composto de palavras do inglês com vários idiomas autóctones, o Chinook. Ainda utilizamos palavras desta língua em inglês no oeste. Algo muito bonito, por exemplo, é o skookum. Mas, no caso da tradução de Bueno, queria utilizar a mescla de idiomas de meu lugar, a cidade de Montreal. A cidade onde moro, onde traduzo.
Zunái: Existe um "silêncio" da língua mohawk em sua cidade, sendo que os mohawks são os indígenas originários daquele lugar. Como você acaba de nos dizer é "um silêncio que grita". O mohawk ainda existe, falado e escrito, nas reservas indígenas da região. Vejo que você se encontra dobrada pelos dois silêncios, que eles ressoam entre si, tanto o frores como o mohawk. Então, como você analisa este fenômeno? Por que o mohawk não foi constitutivo do francês falado no Quebec?
EM: O francenglish que utilizei é algo particular, inventado por mim para responder ao texto de Bueno. Vivo num país francófono, e os mohawks, como todos os outros indígenas, foram cooptados pelos colonizadores e forças inglesas há 400 anos. Tem que lembrar que tivemos aqui dois colonizadores antagônicos. Havia os indígenas que ficaram do lado francófono, como também os hurons, e outros mais. A situação é muito diferente. Isso tudo é muito complicado e eu não tenho nenhum aprendizado técnico neste sentido. Minhas opiniões contam como as de qualquer um.
Zunái: Segundo José Kozer, o célebre poeta cubano exilado nos EUA, as três línguas de Mar Paraguayo resultam, para ele, numa quarta língua - o portunhol. O que aconteceu para que o francês falado deixasse de fora o mohwac? Insisto nesta questão. Crê você que haja um racismo mais ostensivo no Canadá? Psicanaliticamente falando, poderíamos pensar que não ocorreu o nó lacaniano na forma de "sinthoma" que possibilitaria a criação de uma quarta língua como o portunhol?
EM: Não tenho muita experiência nisso e não poderia situar minhas observações neste contexto. Creio que o francenglish que traduzi de Bueno é uma invenção minha, nada mais. É certo que houve racismo em nossa História, e que isto ainda nos machuca. Também está claro de que tanto aqui, como nos EUA, os indígenas têm menos oportunidades, e que nossas prisões têm uma população de indígenas em número bem mais expressivo do que a população em geral. Temos que fazer muitas mudanças, é evidente. Não se trata, creio eu, de um racismo ativo, mas sim histórico e estrutural, que tentamos retificar. O nosso modo de retificação (nós, como sociedade) não está sempre à altura deste trabalho, creio eu. Esta é uma outra situação, não sou especialista nisso, sou tradutora.
Zunái: Você faz uma distinção entre idioma e língua. Qual é a diferença em seu raciocínio?
EM: A língua é mais vasta, refere-se a todo idioma em geral, os idiomas para mim situam-se nos lugares. Talvez a língua resida nas pessoas (e nas flores, nas árvores, nos animais...)
Zunái: Como tradutora de Mar Paraguayo você também disse de forma textual : "Por não ter encontrado todas as palavras, eu as inventei: " takwa'ahson: spider (aranha) takwa'ahson tehota'a: ronte: spider web (teia de aranha) nitakwa'ahsona:' a: little spider (uma: pequena aranha)." Você confessou aí claramente que inventou estas palavras. Como você vê a invenção de palavras? Você mesma, como poeta, e Wilson Bueno como o inventor do portunhol na errância fonética da escrita ficcional de Mar Paraguayo, "inventam" uma nova literatura?
EM: Encontrei as palavras no dicionário, de um modo bastante simples. Mas, eu não tenho a menor idéia de como são utilizadas ou construídas as frases. Em cada tradução existe um pouco de invenção. Caso contrário, a tradução se torna impossível. Traduzimos através de nosso próprio corpo que faz parte de uma cultura, que era e sempre será social, sempre antecipadamente.
Zunái: Todos os estudiosos de James Joyce sabem que depois dele a literatura não existe mais. Na sua opinião, existe aí uma "destruição"?
EM: Não vejo assim, como a "destruição" da literatura mas sim como a "destruição" de uma idéia fixa da literatura. A literatura é algo que "se fixa". São necessários os escritores para fazê-la se mexer, rebolar, avançar.
Zunái: Sabemos que o Paraguai possui duas línguas oficiais: o guarani e o espanhol. Contudo, existe um modo de falar que é um costume dos índios guaranis que foi transmitido para os paraguaios. Chama-se apocopar. Cortam-se as palavras e depois as reúnem, sempre em uma nova forma. Surgem sempre novas palavras durante a conversação. Parece que aí uma nova língua se desenvolve no ato mesmo da fala. Um jogo lingüístico e social que compõe a comunicação.
EM: Que coisa interessante! Talvez, o mohawk seja semelhante nesse aspecto.
Zunái: Podemos acreditar que se tratam de poemas, estas línguas vocalizadas. Seriam elas mesmas formas poéticas?
EM: Toda língua é poesia. Diria que isto ocorre principalmente nas regiões de fronteira onde os idiomas se modificam e a língua se torna mais interessante, em movimento constante. Não?
Zunái: O que você pensa do interesse crescente, em certos meios literários, dirigido a romances como Mar Paraguayo? Uma obra, por exemplo, que mereceu inúmeras reflexões, num arco, como no caso, que vai de Cuba à New York, de Paris ao México e à Argentina?
EM: Aprovo vivamente! Penso que trabalhos desta natureza merecem o interesse de qualquer meio literário.
Zunái: Uma questão para a poeta do inglês, do galego e inventora do francenglish: O que você pensa da nova poesia anglo-saxônica produzida nos países de língua inglesa?
EM: Anglo-saxão para mim quer dizer um período histórico no Reino Unido! Você está falando da nova poesia em língua inglesa? Ou que é produto não só de pessoas de ascendência inglesa? Não posso falar da Inglaterra, nem dos Estados Unidos, nem da Austrália ou dos países africanos que falam inglês. No Canadá, posso dizer que existem poetas muito interessantes que romperam com as normas, que fugiram dos quadradinhos. É isto que me interessa na poesia. Esta nova poesia tem nomes, como Lisa Robertson, Christian Bok, Sina Queyras, Daphne Marlatt, Hiromi Goto, George Bowering, Ray Hsu, Ian Samuels, Lola Lemire Tostevin, Roberto Kroetsch, Nicole Markotic e outros e outras...
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Gleuza Salomon, psicanalista, membro fundadora da Escola Brasileira de Psicanálise, organizadora da antologia Sexistências. (Edita Iluminuras, a sair).
A tradução das respostas de Erin Moure foi realizada por Gleuza Salomon e por Ewaldo Schleder.
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Leia também poemas de Erin Moure e a tradução feita por ela de um fragmento do Mar Paraguayo para o francenglish.

Entrevista com Jacques-Alain Miller


Márcio Peter de Souza Leite • Jorge Forbes
(in Carta de São Paulo, número 10, agosto/setembro/2003)




Em 10 de novembro de 1998, Márcio Peter de Souza Leite e Jorge Forbes entrevistaram Jacques-Alain Miller, numa tarde agradável, no "Harmonia", em São Paulo

1a. Questão: A Letra e a Carta Amassada*
Pergunta
- Você no livro "Os signos do gozo", aponta que, aí, não se trata de um progresso na obra de Lacan, mas de uma mudança de axiomática; apontando esta mudança como sendo o "Há do Um" (II ya de l'Un). Então, em torno desta questão, o que se nos impõe nos nossos estudos é: qual seria a relação entre o Um e o traço unário, entre o Um e a letra; por conseguinte, a relação entre a letra e o traço unário? Isso porque, na obra de Lacan, apresenta-se a letra como o suporte material do significante. Mas em Lituraterre, Lacan coloca a letra como o precipitado do significante. Então, existiriam duas possibilidades: a letra anterior ao significante, ou a letra como conseqüência do significante. Nossa primeira pergunta aponta esta questão.
Miller - Desde o começo de seu trabalho clínico, Lacan interessou-se pelas formas verbais da expressão. Há um conhecido artigo do psiquiatra Paul Guiraud, ao qual Lacan se refere, que estuda as psicoses, as maneiras de dizer, o desvio específico do sentido, as formas aberrantes do significante. Em sua tese sobre a psicose, Lacan claramente utiliza o que naquela época podia ter de filosofia, ou de linguagem, ou de lingüística, quase como se esperasse o que viria depois, ou seja, a lingüística estrutural. Existia já como um lugar preparado e vazio - não falemos ainda de seu ensino - em sua abordagem das coisas; havia uma chamada em direção a uma ciência - ou, pelo menos, uma consideração do tipo científico - da relação entre o suporte material da expressão e os efeitos do sentido. De tal maneira que, depois da 2a. Guerra Mundial, quando Lacan entrou em contato com a lingüística estrutural, ele adotou esse ponto de vista, não diretamente, mas sim a partir da intuição primária de Lévi-Strauss - do ponto de vista saussuriano - tal como Lévi-Strauss pôde conhecê-Io em Nova lorque, enquanto residia nos Estados Unidos. Ele lecionava no mesmo lugar que Roman Jakobson e Lévi-Strauss, ouvindo-o, teve a intuição primária de que isso lhe serviria na antropologia. Foi realmente um passo essencial que deu consistência à idéia de ciência humana, no que concerne à cultura, à antropologia, e às disciplinas deste tipo, que poderiam, assim, escapar ao Humanismo ou ao Empirismo, para tornarem-se científicas através da abordagem estrutural dos fenômenos da cultura.
Se houve algo que se pode chamar de ensino, foi pela aplicação desta perspectiva, que dava um algoritmo para transformar - de maneira sistemática os dados que haviam sido compilados, numa perspectiva que se pode chamar de humanista, empirista, para transformá-los e organizá-Ios como estrutura. Era como um algoritmo, pois consistia em aplicar sistematicamente a vivência "significante -significado", e a noção de uma ordem sistemática do significante extensiva a todos os fenômenos da cultura humana. Isso se percebe em Lacan, e corresponde ao impulso de seu ensino; seus dez primeiros seminários, cada um consiste na leitura, pelo menos como ponto de partida, de uma ou de duas obras de Freud, transformando sistematicamente o que Freud trouxe e organizando o material de maneira estruturalista. Ou seja, uma idéia simples, uma divisão simples entre significante e significado, e passar através dela os dados clínicos, através dos conceitos, através de suas conseqüências, e mostrando que as dificuldades que Freud encontrava, seus paradoxos e seus impasses, se solucionam se fazemos essa partição entre significante e significado. Podemos dizer, também, entre simbólico e imaginário. Foi como uma explosão em cadeia. Este movimento é muito perceptível. Por exemplo, tomemos a famosa posição do falo. Lacan mostra que se concebemos o falo de maneira empirista como o órgão, o pênis, não se entende a existência da fase fálica entre os dois sexos; somente se concebermos o falo como simbólico, diferente da forma e da imagem do pênis e da realidade do órgão, somente com essa distinção se ordena o material clínico. O conceito de recalque, ou regressão, se o concebemos apenas sobre um plano de realidade, implicaria que o paciente realmente voltaria, passaria pelas fases anteriores de seu desenvolvimento, e terminaria como um bebezinho chorando no divã. A regressão não é isso. Há um plano simbólico da regressão, que é retornar aos significantes de demandas anteriores, mas não na realidade. Lacan também mostra que se consideramos o pai somente como um personagem real, não se compreende a função que possui, e que somente se distinguirmos entre o pai real, o pai imaginário e o pai simbólico, se ordenam os dados clínicos.
Este algorítmo, fundamentalmente baseado na distinção" significante-significado", sob sua forma mais complexa é a divisão entre o simbólico e o imaginário. Este algoritmo deu uma grande impressão de novidade e de potência, porque nada resistia à força desse ordenamento. Isso fundamentou a idéia de Lacan, e continua sendo a base da popularidade de seu ensino, e é o que agora colegas que não foram formados por ele, entendem como sendo Lacan: o pai simbólico, o falo, tudo isso o resultado do algoritmo inicial. Isso, claramente, colocava em primeiro plano o semântico, o que implicava uma certa redução do ponto de vista econômico de Freud. E é isso que, de maneira aproximativa, os contemporâneos daqueles tempos consideraram como um intelectualismo de Lacan. O que chamavam assim era a primazia que Lacan dava à semântica sobre o econômico, ou seja, da semântica sobre o libidinal. E Lacan dava razões para isso, pois o significante, na sua emergência, na sua ação, em si mesmo, implica uma deslibidinização, um elemento mortífero, uma ação mortífera, que se encarna sumariamente no que chamou de "barra significante" .Para se transformar em significante um dado, um elemento tomado da realidade, ele deverá ser esvaziado, comprimido, mortificado e é, por isso, que surge, podemos dizer, como emblema. De tal maneira que, correlativamente ao algoritmo inicial, há uma barra evidente, que é a que separa "significante significado", que também suprime o libidinal, para dar lugar à combinação simbólica. Lacan, através disso, podia simultaneamente dar conta da castração. Fazia da castração freudiana o efeito da linguagem ou, melhor dizendo, do significante. Isso implicou muitas transformações dos conceitos freudianos, em particular, do conceito de pulsão. Lacan claramente deu uma versão deslibidinizada de pulsão, quando a apresenta como uma demanda, uma demanda articulada com significantes primários, diferentes dos significantes uportes do significado, ou como uma cadeia significante inconsciente.
Está claro que isso permitia dar conta de muitíssimas coisas com grande eficácia, mas deixava a necessidade de conceituar o libidinal como tal. que aparecia na conceituação sempre como uma inércia, como um resto, como algo a mais que aparecia na dimensão psicanalítica. Quer dizer, como algo real, quando na psicanálise se tratava essencialmente de elementos simbólicos e imaginários, de elementos significantes e de significados. E havia, além disso, o real, do qual Lacan dizia, no Seminário IV: "Do real não falamos". O real não pertence a nossa operação.
Mas, acredito que precisou conceituá-lo, cada vez mais, até chegar na sua criação própria, para além do efeito dessa perspectiva estruturalista, como objeto "pequeno a", que apareceu primeiro à margem de seu ensino, e que se resume finalmente no esquema dos quatro discursos. Existe o significante que, no mínimo, deve ser representado como um par significante, uma vez que ele ocorre essencialmente como um sistema, uma ordem, no mínimo criando uma relação de dois. O efeito de sentido, o significado, como terceiro elemento.
Por muito tempo, Lacan considerava o que chamava "o sujeito" como sendo um efeito de sentido. É a hipótese mais simples, dado que - na análise pensamos que é através das palavras e efeitos de sentido que se transforma o sujeito, então o mais evidente é considerar o sujeito, ele próprio, como um efeito do significante, que responde à cadeia significante. Finalmente, todo o esforço de Lacan foi - a partir de seu ponto de partida - acrescentar o quarto elemento, quer dizer, o elemento libidinal. O divertido é que, vinte anos depois da construção desse elemento libidinal nesta estrutura, fundamentalmente saussuriana ou jakobsoniana, acabou por comprender que não era suficiente, que o objeto "pequeno a" era um artifício fraco demais para dar conta da instância, da pressão, da importância da libido freudiana. Isto é dito no Seminário XX. Finalmente, o objeto "pequeno a" é um semblante, e em comparação com a função do gozo, fica aquém, não dá conta. Foi depois desse Seminário que começou a repensar tudo, não pensar o gozo a partir do "significante-significado", do algoritmo inicial, senão repensar este algoritmo inicial a partir do gozo, que é uma tentativa e tanto. Neste momento, é como se o ensino de Lacan saísse de sua própria lógica, ou fosse conduzido até seu próprio limite; há algo assim como um salto, e a tentativa de ver tudo o que se tinha a partir de uma outra perspectiva, como um anti-Lacan. Muitas coisas que depois surgem, parecem ser de um anti-Lacan, uma crítica de Lacan. Como se Lacan tivesse se tornado suficiente mente velho para dar, ele mesmo, um passo além de Lacan. Assim, a última parte de seu ensino me parece que é uma espécie de tentativa de Lacan para ir além de Lacan, do algoritmo lacaniano. Ao mesmo tempo, não se pode dizer que teve - nesta perspectiva - o mesmo sucesso que na primeira parte; uma vez que não dispôs de um algoritmo tão forte quanto o primeiro; a própria idéia de um algoritmo que funcione não corresponde à perspectiva da segunda e última parte.
Agora, quando vocês bem assinalam que há distinções sobre a letra entre um momento e outro, é por causa disso. É claro que Lacan já havia encontrado esta instância da letra antes, por exemplo, se pensamos na Carta Roubada. Lacan assinalava num primeiro momento, a insistência mesma da carta, que se me lembro bem, é a rainha quem a amassa, e é o ministro que percebe isso, e Lacan diz que nenhum analista descartaria este resto, que é a carta amassada. Assinalando isto, para além do significante e do significado. O significante em seu efeito de significado foi consumido, quando lemos a carta e a podemos entender, já se efetuou a ação do significante; ademais, existe algo que é o objeto material, que vem por acréscimo, que é um objeto que está invisível na palavra. Na fala, o significante se desvanece. É claro que agora temos aparelhos que permitem à palavra tornar-se escritura imediatamente, como quando se utiliza um gravador. O gravador, sendo material, tem a mesma função que a carta amassada.
É este elemento que quando Lacan fala de Gide, também assinala esta materialidade própria das cartas que permite à senhora Gide queimá-Ias. Para machucar, Gide queima as cartas de amor enviadas por ele, que as considerava a mais bonita correspondência amorosa do mundo. Toda a leitura de Lacan termina na materialidade da carta que, uma vez queimada como coisa, ou uma vez queimado o objeto, o significante e o significado se desvanecem, porque não havia outros exemplares, havia um só de cada; se tivessem sido fotocopiadas, a senhora poderia ter queimado as cartas sem maiores conseqüências.
É essa mesma função que figura, no que diz Lacan, como uma espécie de suplemento. Quando ele escreve Lituraterre, faz desta materialidade o centro da operação literária, faz da litura do dejeto o centro ao redor do qual gira a própria literatura, que não gira ao redor do mecanismo que vincula o significante ao significado, senão que gira ao redor da litura, e é por esta razão que seu texto começa com uma homenagem a Samuel Beckett e a seus personagens que falam desde a lixeira.
A perspectiva sobre o gozo também se inverte porque, na primeira parte do ensino de Lacan, do gozo antes do significante não se podia dizer muito. Falava-se somente do resto que fica da libido, depois da operação significante. Corresponde bem ao que diz Freud quando fala da deslibidinização do corpo, e que a libido se concentra em algumas zonas residuais. No último ponto de vista de Lacan, é como se ele tentasse se localizar no gozo primário, para situar o significante a partir deste ponto de vista. Ou seja, é nessa circunstância que pode finalmente problematizar o que esse significante tem de estranho, como se introduz o significante a partir do gozo de um ser vivo, e como se destaca, dentro dos significantes, um significante organizador, um significante amo.
De tal maneira que, no primeiro ponto de vista é como se o problema, como se o conceito essencial fosse o conceito do Outro, enquanto lugar do Outro, enquanto sistema simbólico, mas não um sistema puro, porque tem um desejo, também do Outro. E, na última perspectiva, o conceito essencial é o conceito do Um, que deve ser pensado na distinção do Outro, isto é, na primeira perspectiva, a questão é a do sistema do significante e, na segunda, da existência do significante como tal.



Obs: Agradecemos a Jorge Forbes a revisão técnica. 

 http://www.marciopeter.com.br/links2/entrevistas/entrevistaJacques.html

20 años sin fronteras (I)

http://www.elmitodeeuropa.blogspot.com.es/2012/10/20-anos-sin-fronteras.html


The Single Market (I) / Le Marché Unique (I) / El Mercado Único (I)

Por estas fechas, en 1992, en el seno de la por entonces Comunidad Europea se estaba fraguando algo. Se acercaba un momento clave en la construcción de Europa. Todo un logro al que se llegaba a base de pequeños pasos desde 1951. Por estas fechas, en 1992, en Europa se derribaban todas las barreras para hacer del “Mercado Único” una realidad.

Y esta introducción tan poética para afirmar que el “Mercado Único” es sin lugar a dudas el mayor éxito alcanzado por la Unión Europea hasta el momento y que, afortunadamente continúa perfeccionándose y ampliándose en la actualidad. Su importancia es tal, que ha conseguido que las Comunidades Europeas, que nacieron con un claro objetivo económico –aunque a veces nos quieran vender lo contrario- hayan evolucionado hasta convertirse en una auténtica realidad constitucional que pone al ciudadano en un primer plano.

Pero, ¿qué es el “Mercado Único”? Y, lo más importante ¿cómo influye en nuestras vidas?. Pues eso es algo que intentaré explicaros con esta entrada y otras cuantas que escribiré poco a poco… Por ahora empecemos con unas nociones.

El “Mercado Único”, tambien conocido como Mercado Común o Mercado Interior, surge con un objetivo doble: suprimir todo obstáculo y simplificar las regulaciones comunes a los Estados de la UE.

De este modo se consigue eliminar las fronteras interiores de la UE, esto es, las fronteras entre los distintos Estados Miembros. Y así se establecen “las cuatro libertades fundamentales de la economía europea”: la libre circulación de mercancías, capitales, servicios y trabajadores (este último ampliado en la actualidad al concepto “personas”). Ello significa que tanto mercancías, capitales, servicios y personas pueden circular dentro del territorio de la UE con la misma libertad con la que circularían dentro de un único Estado, sin que las fronteras nacionales puedan suponer cualquier tipo de obstáculo.

A medida que se amplía la UE el número de Estados y personas que se benefician de estas cuatro libertades se incrementa. En sus inicios, con 12 Estados Miembros y 350 millones de personas; en la actualidad con un total de 27 Estados Miembros y más de 500 millones de personas, conviertiéndolo en el mercado común más grande del mundo.

Sin embargo, alcanzar estas cuatro libertades exigió superar múltiples obstáculos no solamente de carácter jurídico, sino, además de carácter burocrático y técnino. Esto se consiguió unificando poco a poco el Derecho Europeo a través de las Directivas -fuente de derecho del ordenamiento jurídico europeo que exige para que sea posible aplicarla su transposición a la legislacion nacional de cada Estado Miembro cumpliendo los plazos previstos -. 

Así, aunque los Tratados declaren que en la UE rige una economía de mercado único, no es posible afirmar que los beneficios que este reporta tengan una aplicación automática, pues es necesario pasar por tres pasos: 1) Que el legislador europeo adopte la directiva sobre un asunto concreto, 2) Que el Estado Miembro dicte una norma de derecho nacional en la que realice la transposición de la directiva –lo que sería “vaciarla” en su ordenamiento juridico interno, 3) Que las Administraciones del Estado Miembro se encarguen de la aplicación dentro de su territorio de la directiva.

Pero, incluso en la actualidad, surgen problemas relativos a las “trabas” [del francés entraves] que la legislación de los Estados Miembros presenta frente a esta libre circulación del mercado único; especialmente, en aquellos casos en que los nacionales de otro Estado Miembro no son tratados como los propios nacionales.

Aquí, en la mayoría de ocasiones, podemos encontrar un cuarto paso para garantizar la eficacia del mercado único: 4) La cuestión prejudicial elevada por un juez nacional al TJUE cuando se encuentra con un posible obstáculo a cualquiera de las cuatro libertades de circulación. De forma contundente, el TJUE, dando respuesta a estas cuestiones prejudiciales, se pronuncia frente a estas “restricciones” considerándolas contrarias al Derecho de la UE y, en concreto, contrarias a los Tratados que proclaman estas cuatro libertades y que son directamente aplicables en todos los Estados Miembros.

Cuando, tras cumplir los pasos mencionados, la libre circulación se convierte en una realidad, tres son los grandes beneficiarios del mercado único europeo: las empresas, los consumidores y las personas. 

Las empresas, porque su campo de actuación se amplía y pasan a poder realizar sus negocios hasta en un total de 27 Estados.
Los consumidores, porque aumenta el número de productos disponibles y, gracias al incremento de la competencia entre empresas, pueden adquirirlos a precios más bajos. 
Y, finalmente, las personas, que pueden trabajar, vivir o estudiar en cualquier Estado Miembro. Pero esto tocará explicarlo detalladamente otro día.



Imágenes:
(1) Fotografía del Mercado de Barcelona. 

(2) Entrada del English Market en Cork (Irlanda). Al ser Cork una ciudad receptora de estudiantes de inglés es sorprendente la variedad de productos nacionales de otros Estados que se pueden adquirir en sus puestos.

(3) Las cuatro piezas clave del Mercado Único (las cuatro libertades fundamentales).

(4) Imagen "Creciendo Juntos" de la Comisión Europea para la conmemoración de los 20 años del Mercado Único. 


Información interesante sobre el tema:

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Lo singular en la resonancia --- Por Silvia Salman


http://virtualia.eol.org.ar/010/default.asp?notas/ssalman-01.html



Silvia Salman realiza un Recorrido y estudia las variaciones de la "resonancia" en la obra de Lacan, pasando de la "resonancia semántica" a la "resonancia libidinal".
Lo que me interesa recorrer en este trabajo, es el lugar que el término resonancia ha tenido en la obra de Lacan, para ubicar lo que de él se ha mantenido como constante y lo que de él ha variado a lo largo de sus desarrollos.Situar la tensión entre lo que permanece constante y lo que varía, permitirá extraer sus consecuencias en la práctica y sus cambios a lo largo de la enseñanza de Lacan.
La postulación del principio de singularidad es el que me orienta en esta dirección, en tanto considero que es uno de los principios en que se sostiene la interpretación lacaniana.
En el Seminario 20 Lacan nos recuerda, siguiendo el hilo de los discursos, que en la experiencia analítica lo más que se puede producir es S1, S1 al que designa como el significante del goce, y del que remarca que se trata de un goce singularísimo.
Así, desde el momento en que se trata del goce, lo que se impone es la singularidad.
A partir de aquí, la interrogación de Lacan recaerá ya no sobre un significante sino sobre el significante Uno, pudiendo romper con la lingüística y explorar en la perspectiva de lalengua aquello con lo cual se puede designar lo que es el asunto de cada quien.
En 1971, cuando Lacan se dirige a los psicoanalistas en Ste Anne, les señala cual es el principio que sostiene lo que hacen cuando interpretan, y les dice, que no hay interpretación que no concierna al goce. Es decir, al lazo de lo que se manifiesta en la palabra con el goce. He ahí el asunto de cada quien, lo que cada uno debe poner de su parte.
La cuestión que se nos plantea en la experiencia del análisis es saber cómo se puede con el decir atrapar a ese goce, cómo se puede llegar a tocarlo y a modificarlo.
¿Cómo decir? Ese es el asunto del lado del analista.
La orientación la encontramos en el Seminario 23 cuando Lacan afirma que es preciso que haya algo en el significante que resuene.
Sin embargo, ya nos hablaba Lacan de la resonancia de la interpretación en "Función y Campo de la palabra y del lenguaje en psicoanálisis".
1- La resonancia semántica
En "Función y Campo..." Lacan sitúa la experiencia del análisis como una experiencia de palabra y sostenida por la estructura del lenguaje.
Allí propone renovar a la interpretación restituyéndole a la palabra su valor de evocación. De este modo, queda situada la posición del analista como aquel que puede jugar con el poder del símbolo evocándolo de una manera calculada en las resonancias semánticas de las expresiones.
En el horizonte, la pregunta que se formula en este momento es ¿cómo transformar mediante la palabra, al sujeto a quien ella se dirige? En esta perspectiva, el fundamento de la palabra es la comunicación. Dice Lacan :"...Lo que busco en la palabra es la respuesta del otro, lo que me constituye como sujeto es mi pregunta". Se considera a la interpretación, entonces, fundamentalmente como reconocimiento y lo que se destaca es su función de evocación.
En "El escrito en la palabra", Miller localiza una tensión entre la resonancia y la comunicación. Mientras que la resonancia de la palabra restituye a la palabra su valor de evocación, se tiene la impresión de que está al lado de la comunicación, es decir que destaca elementos no comunicacionales. Finalmente concluye que la resonancia es de todos modos una comunicación, aunque por el sesgo de lo indirecto.
Es decir, comunica indirectamente evocando al sujeto para transformarlo. Esta es la idea en "Función y campo...". No queda por fuera del plano de la comunicación.
Se resalta así la propiedad semántica de la resonancia, es decir el valor simbólico de la misma.
¿De qué modo adquiere relevancia la resonancia en este momento? Lacan sostiene que es el eco de la palabra, es la propiedad de la palabra que consiste en hacer escuchar lo que no dice. Al mismo tiempo que no dice, hace escuchar. Se acentúa así el modo indirecto de la interpretación, y el decir al lado que irá tomando diferentes formas a lo largo de su enseñanza, pero conservando este eje.
En esta perspectiva, el referente de la interpretación es el lenguaje y por lo tanto el registro simbólico. Lo que se pone de relieve es la posición particular que el sujeto tiene respecto del significante. Me interesa remarcar el estatuto de lo particular ya que lo que la interpretación aísla por este sesgo, es la posición del significante que se recorta sobre el fondo del lenguaje, es decir en la cadena. Se revela entonces un particular que mantiene su referencia al Universal. Y el "todos" es forzosamente semántico.
Más adelante Lacan dirá, tal como lo señalábamos al inicio, que lo que a él le interesa es el Uno, el significante como Uno. Es con el Uno que se tiene una oportunidad de escapar del sentido y por ello es de ese Uno del que pueden surgir los equívocos.
El equívoco es un significante librado por el analista que tiene la propiedad de ser un enunciado de una apertura tal, que no determina de manera unívoca el significado, es una invitación a que no se concluya sentido. Esta manera de decir obliga al analizante a poner algo de su parte, es decir, a producir el equívoco de su lado interpretando así su goce. Se capta en este movimiento el deslizamiento que se irá produciendo desde lo particular del sujeto hacia lo singular del parlêtre y sus incidencias en la práctica.
2- La resonancia metonímica
Un tiempo más tarde, la clínica se modificará con la introducción del falo, y es en "La dirección de la cura y los principios de su poder" que formalizará la doctrina de la interpretación con el término alusión.
Con la conceptualización del falo como significante impar, la indicación de Lacan es que la interpretación debe desplegar su virtud alusiva. La alusión muestra algo pero sin nombrarlo, es decir que puede hacer escuchar algo sin hacerlo pasar por el dicho.
De este modo hace entrar en juego la propiedad metonímica de la resonancia. La alusión acentúa entonces, no tanto la cadena significante, sino el intervalo. Por ello Lacan lo ilustra con el dedo levantado del San Juan de Leonardo, índice de lo indecible.
Se podría pensar que entre la evocación y la alusión, Lacan se desplaza de la dimensión de lo reprimido a la dimensión del vacío y de la falta, y esto tiene consecuencias en la clínica. De la clínica sin falo de "Función y campo..." a la clínica del falo de "La dirección de la cura...", es uno de los ejes que Miller recorre en el curso "De la naturaleza de los semblantes".
Es interesante señalar que en este momento de su enseñanza, Lacan toma como referencia por un lado, lo que la tradición hindú enseña acerca de la propiedad de la palabra de hacer entender lo que no dice: "...La ausencia del león puede pues tener tantos efectos, como el salto que, de estar presente, sólo daría una vez."
Y por otro, apela a los recursos de una lengua y especialmente de los que se realizan concretamente en sus textos poéticos. Se trata así, de manejar la función poética del lenguaje para dar al deseo su mediación simbólica.
3- La resonancia libidinal
Pero... la interpretación lacaniana, la que fundamenta nuestra práctica, aún está por venir. Es la radicalización de la noción de real la que prepara el porvenir de la interpretación.
Para ello habrá que situar algunos ejes de lo que ha devenido la resonancia de la interpretación en la última enseñanza de Lacan.. En primer lugar diré que lo que se acentúa es la propiedad económica de la resonancia.
La referencia a la pulsión y al cuerpo son los dos elementos que se recortan en este nuevo abordaje. Por un lado en el Sem.23 Lacan dirá que "...las pulsiones son el eco en el cuerpo del hecho de que hay un decir".
Se introduce así la dimensión de lo real y el costado por donde el inconciente se encuentra ligado a él. Hay una referencia directa del inconciente al cuerpo que convoca al analista a operar sobre la economía libidinal para dilucidar el misterio del inconciente, es decir, el misterio del cuerpo que habla. Y se propone el equívoco como el modo eficaz para que este decir resuene en los orificios del cuerpo sensible.
Efectivamente, el trabajo del inconciente no se agota en la producción permanente de un saber que por ser inacabado es por ello mismo insistente. En esta perspectiva, la experiencia de un análisis se adentra más allá de lo que el inconciente metaforiza como saber captando los cortes por donde lo real se muestra.
Por otro lado, en el Seminario 24 dirá que "...es por el forzamiento por donde un psicoanalista puede hacer sonar otra cosa que el sentido" y esta vez nos reenvía a la escritura poética china y al chiste, para situar la dimensión de la interpretación analítica. En este punto queda claro que si bien para Lacan, es necesario pasar por la linguística, él no se ha quedado ahí. El desplazamiento del significante a la letra, lo demuestra.
Por un lado, le da un nuevo alcance a la metáfora y a la metonimia en tanto anudando estrechamente el sentido y el sonido son capaces de hacer "canturrear" otra cosa. Y por el otro, propone hacer un uso inédito de la palabra, un uso diferente de aquel para el cual está hecha.
Lo que se constata a partir de esta última perspectiva es que la referencia de la interpretación deja de ser el lenguaje y lo que surge como fondo es lalengua.
El carácter fundamental de esta formulación apunta a situar que con lalengua ya no se encuentra asegurada la conexión al Otro y que en este sentido, la interpretación analítica se dirige a lo que hay del Uno en el parlêtre, revelando la singularidad de su goce. Por ello esta última, es una resonancia que se produce en el cuerpo, en tanto este cuerpo es la sustancia sobre la que se apoya el goce y así se percibe que lalengua no está hecha para decir sino para gozar, y que ese es nuestro canturreo.
Se puede captar aquí un desplazamiento de la dimensión del vacío y de la falta, ligados a la propiedad metonímica de la resonancia, hacia la dimensión del "No hay relación sexual" cuyo correlato es "Hay el Uno". El S1 es la marca en el sujeto de una singularidad imborrable, es el rasgo que lo pone a parte en la serie de los Unos. Y se desprende de allí que, orientado por lo real, es al analista al que le corresponde la responsabilidad de producirlo en la experiencia.
Por ello, considerar al principio de singularidad como aquel en que se fundamenta la interpretación analítica, permite captar las diferentes formas en que el término resonancia se presenta en la obra de Lacan, así como el modo en que la posición del analista se articula a ella.
La resonancia semántica queda al fin cuestionada en su última enseñanza por la resonancia libidinal. Se distingue así lo singular del goce, que implica la producción de un significante S1 desconectado del Otro. De lo particular que emerge como efecto del enlace de un significante con otro, que Lacan denomina cadena S1-S2, y cuyo referente es el lenguaje. Cabe señalar que no se trata de corregir dicho enlace, sino de objetarlo.
Es en esta dirección que se alcanza lo que podríamos llamar el punto límite del inconciente, allí donde un significante ya no llama a otro, allí donde se podrá leer lo que el Uno escribe de la causa.
1-Lacan, J.: Función y campo de la palabra y del lenguaje en psicoanálisis, en Escritos 1, 
2-Siglo XXI editores, Buenos Aires, 1980.
3-Lacan, J.: La dirección de la cura y los principios de su poder, en Escritos 1, Siglo XXI
4-Editores, Buenos aires, 1980.
5-Lacan, J.: El saber del psicoanalista, inédito.
6-Lacan, J.: Seminario 20, Aún, Editorial Paidós, Buenos Aires, 1981.
7-Lacan, J.: Seminario 23, El sinthome, inédito.
8-Lacan, J.: Seminario 24, La Una equivocación, inédito.
9-Miller, J.A.: El lenguaje aparato del goce, Colección Diva, Buenos Aires, 2000.
10-Miller, J.A.: Entonces: "Sssh...", Minilibros Eolia Barcelona-Buenos Aires, 1996.
11-Miller, J.A.: De la naturaleza de los semblantes, Editorial Paidós, Buenos Aires, 2002.
12-Miller, J.A: Los desencantos del psicoanálisis, inédito.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

El cartel: un nuevo lazo Por Vilma Coccoz





En Del psicoanálisis y sus relaciones con la realidad leemos: "los psicoanalistas son los eruditos de un saber del que no pueden conversar". Esta frase, reuniéndola con la anterior: "A eso se debe su asociación con quienes sólo comparten ese saber al no poder intercambiarlo", permite entender que el saber del que se ocupa el psicoanálisis no es comunicable de sujeto a sujeto -no hay intersubjetividad-.
Hay otras vías que toman en cuenta esta imposibilidad de comunicar los unos a los otros aquello de lo que se trata. La primera de esas vías es la del propio análisis, en el sentido en que todo análisis es didáctico. No obstante, el saber del que la experiencia del análisis instruye es limitado: saber de la determinación del inconsciente sobre el ser hablante, saber de un goce particular que se obtenía como síntoma. Pero un sujeto nada puede saber del sentido de los síntomas de otro, es decir, de la satisfacción que esos síntomas producen. Para poder permitir a otro el acceso a ese saber no basta con haberlo conquistado uno mismo, sino que hace falta haber pasado a la posición de analista. Esta es la diferencia fundamental entra la IPA y la Escuela ya que ese pase no es automático, también de éste se trata de producir un saber.
Entonces, aunque eruditos en un saber de la estructura, los psicoanalistas no se reúnen como sabios para conversar de su saber y ampliar el campo de la erudición sino que se asocian justamente por lo contrario, por una imposibilidad de conversar. El cartel encuentra en este punto la especificidad de su función: ser la bisagra, la articulación entre el psicoanalista solo, en la soledad de su acto, y la Escuela, donde los analistas trabajan para la transmisión del psicoanálisis aportando su experiencia como analizantes y como analistas. Esto constituye la segunda vía, la del matema.
Parecería entonces que es ese imposible el que hace posible el grupo. Sin embargo, no es tan simple. En "L’Etourdit", Lacan dice: "Lo mío parece una empresa desesperada (…) porque es imposible que los psicoanalistas formen grupo. No obstante, el discurso psicoanalítico (…) puede fundar un vínculo social limpio de toda necesidad de grupo" No propone eliminar el grupo sino fundar un lazo sin la necesidad del mismo. ¿Qué da origen a esta necesidad?
En este mismo texto, Lacan define el grupo a partir de la diferencia entre efectos de grupo y efectos de discurso: "Lo imposible del grupo psicoanalítico es a la vez lo que en él funda, como siempre, lo real. Lo real es esa obscenidad misma: así entonces de ella "vive" como grupo. Esta vida de grupo es la que preserva la institución llamada internacional…"Pero, como Lacan mismo nos dice, "esto no es lo importante, ni tampoco lo es el que sea difícil para quien se instala dentro de un mismo discurso vivir de otra manera que no sea en grupo; lo importante es lo que aquí se convoca, a saber: el baluarte del grupo, la posición del analista tal como queda definida por su discurso mismo. El objeto a en cuanto a la aversión que lo enfrenta al semblante donde lo sitúa el análisis ¿podrá sustentarse con otro consuelo que no sea el del grupo?"
Por lo tanto, lo que causa la necesidad de grupo revela una comunidad de estructura con su imposibilidad: el objeto a. Si el psicoanálisis muestra la separación del Ideal y el objeto a y la naturaleza de semblante de este último, dando así la clave de su operatividad, la posición del analista respecto del objeto está determinada por los efectos de grupo que lo produce como analista.
¿Cómo funciona el objeto a en el grupo? Siempre en "L’Etourdit", si la muerte en Freud es el amor, la "vida" del grupo sólo nombra al odio. Al fundarse en un amor a Freud y al psicoanálisis, la IPA refuerza los lazos de identificación. Como consecuencia, no se opera la separación entre el I y el a, cuya distancia permite revelar su estatuto de semblante, y el jefe encarna su conjunción.
En los miembros del grupo se produce un efecto hipnótico: calla la crítica del Ideal debido a la erotización del lazo con el líder, quedando entonces los miembros del grupo reducidos a ser eco del líder. Éste, por su parte, no por ello obtiene el ser sino sólo la consistencia imaginaria del a, "un semblante más de la cuenta, una ostentación de semblante" (cf. La Tercera).
De esta manera, el amor y el odio están asegurados, en la aversión a reconocer que el objeto no es más que semblante. ¿Qué puede esperarse de la posición de un analista producido por un real cuyo único tratamiento es la pasión?
El desconocimiento de lo real en juego, aunque promueva algún saber, será seguramente escaso, como se demuestra en la producción de la IPA: punto cero de saber.
Fundar un lazo, limpio de la necesidad de grupo, en el que se opere la distancia necesaria entre el I y el a, operación a cargo del más uno en el cartel, equivale a demostrar que del ser sólo hay semblante, que el agente del discurso analítico es del orden del semblante, y que en un correcto anudamiento de una imposibilidad de saber y una imposibilidad de grupo, lo que sí se obtiene es la existencia del discurso analítico.
Artículo publicado en Uno por Uno #10
http://www.nel-mexico.org/template.php?file=carteles%2Fmiller_cinco_variaciones%2Fcoccoz_nuevo_lazo.html