quarta-feira, 24 de julho de 2013

O valor da vida. Uma entrevista rara de Freud. Tradução de Paulo Cesar Souza Tradução de Paulo Cesar Souza – 20 de abril de 2010

Setenta anos ensinaram-me a aceitar a vida com serena humildade.
Quem fala é o professor Sigmund Freud, o grande explorador da alma. O cenário da nossa conversa foi uma casa de verão no Semmering, uma montanha nos Alpes austríacos.
Eu havia visto o pai da psicanálise pela última vez em sua casa modesta na capital austríaca. Os poucos anos entre minha última visita e a atual multiplicaram as rugas na sua fronte. Intensificaram a sua palidez de sábio. Sua face estava tensa, como se sentisse dor. Sua mente estava alerta, seu espírito firme, sua cortesia impecável como sempre, mas um ligeiro impedimento da fala me perturbou.
Parece que um tumor maligno no maxilar superior necessitou ser operado. Desde então Freud usa uma prótese, para ele uma causa de constante irritação.


S. Freud: Detesto o meu maxilar mecânico, porque a luta com o aparelho me consome tanta energia preciosa. Mas prefiro ele a maxilar nenhum. Ainda prefiro a existência à extinção.
Talvez os deuses sejam gentis conosco, tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte nos parece menos intolerável do que os fardos que carregamos.
Freud se recusa a admitir que o destino lhe reserva algo especial.
- Por quê – disse calmamente – deveria eu esperar um tratamento especial? A velhice, com sua agruras chega para todos. Eu não me rebelo contra a ordem universal. Afinal, mais de setenta anos. Tive o bastante para comer. Apreciei muitas coisas – a companhia de minha mulher, meus filhos, o pôr do sol. Observei as plantas crescerem na primavera. De vez em quando tive uma mão amiga para apertar. Vez ou outra encontrei um ser humano que quase me compreendeu. Que mais posso querer?
George Sylvester Viereck: O senhor teve a fama, disse que Sua obra influi na literatura de cada país. O homem olha a vida e a si mesmo com outros olhos, por causa do senhor. E recentemente, no seu septuagésimo aniversário, o mundo se uniu para homenageá-lo – com exceção da sua própria Universidade.
S. Freud: Se a Universidade de Viena me demonstrasse reconhecimento, eu ficaria embaraçado. Não há razão em aceitar a mim e a minha obra porque tenho setenta anos. Eu não atribuo importância insensata aos decimais.
A fama chega apenas quando morremos, e francamente, o que vem depois não me interessa. Não aspiro à glória póstuma. Minha modéstia não e virtude.
George Sylvester Viereck: Não significa nada o fato de que o seu nome vai viver?
S. Freud: Absolutamente nada, mesmo que ele viva, o que não e certo. Estou bem mais preocupado com o destino de meus filhos. Espero que suas vidas não venham a ser difíceis. Não posso ajudá-los muito. A guerra praticamente liquidou com minhas posses, o que havia poupado durante a vida. Mas posso me dar por satisfeito. O trabalho é minha fortuna.
Estávamos subindo e descendo uma pequena trilha no jardim da casa. Freud acariciou ternamente um arbusto que florescia.
S. Freud: Estou muito mais interessado neste botão do que no que possa me acontecer depois que estiver morto.
George Sylvester Viereck: Então o senhor é, afinal, um profundo pessimista?
S. Freud: Não, não sou. Não permito que nenhuma reflexão filosófica estrague a minha fruição das coisas simples da vida.
George Sylvester Viereck: O senhor acredita na persistência da personalidade após a morte, de alguma forma que seja?
S. Freud: Não penso nisso. Tudo o que vive perece. Por que deveria o homem construir uma exceção?
George Sylvester Viereck: Gostaria de retornar em alguma forma, de ser resgatado do pó? O senhor não tem, em outras palavras, desejo de imortalidade?
S. Freud: Sinceramente não. Se a gente reconhece os motivos egoístas por trás de conduta humana, não tem o mínimo desejo de voltar a vida, movendo-se num círculo, seria ainda a mesma.
Além disso, mesmo se o eterno retorno das coisas, para usar a expressão de Nietzsche, nos dotasse novamente do nosso invólucro carnal, para que serviria, sem memória? Não haveria elo entre passado e futuro.
Pelo que me toca estou perfeitamente satisfeito em saber que o eterno aborrecimento de viver finalmente passará. Nossa vida é necessariamente uma série de compromissos, uma luta interminável entre o ego e seu ambiente. O desejo de prolongar a vida excessivamente me parece absurdo.
George Sylvester Viereck: Bernard Shaw sustenta que vivemos muito pouco, disse eu. Ele acha que o homem pode prolongar a vida se assim desejar, levando sua vontade a atuar sobre as forças da evolução. Ele crê que a humanidade pode reaver a longevidade dos patriarcas.
- É possível, respondeu Freud, que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer.
Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo de manter-se e o desejo da própria destruição.
Do mesmo modo com um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós.
A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer.
No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante.
Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da “febre chamada viver”, anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objetivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.
Isto, exclamei, é a filosofia da autodestruição. Ela justifica o auto-extermínio. Levaria logicamente ao suicídio universal imaginado por Eduard von Hartamann.
S.Freud: A humanidade não escolhe o suicídio porque a lei do seu ser desaprova a via direta para o seu fim. A vida tem que completar o seu ciclo de existência. Em todo ser normal, a pulsão de vida é forte o bastante para contrabalançar a pulsão de morte, embora no final resulte mais forte.
Podemos entreter a fantasia de que a Morte nos vem por nossa própria vontade. Seria mais possível que pudéssemos vencer a Morte, não fosse por seu aliado dentro de nós.
Neste sentido acrescentou Freud com um sorriso, pode ser justificado dizer que toda a morte é suicídio disfarçado.
Estava ficando frio no jardim.
Prosseguimos a conversa no gabinete.
Vi uma pilha de manuscritos sobre a mesa, com a caligrafia clara de Freud.
George Sylvester Viereck: Em que o senhor está trabalhando?
S. Freud: Estou escrevendo uma defesa da análise leiga, da psicanálise praticada por leigos. Os doutores querem tornar a análise ilegal para os não médicos. A História, essa velha plagiadora, repete-se após cada descoberta. Os doutores combatem cada nova verdade no começo. Depois procuram monopoliza-la.
George Sylvester Viereck: O senhor teve muito apoio dos leigos?
S. Freud: Alguns dos meus melhores discípulos são leigos.
George Sylvester Viereck: O senhor está praticando muito psicanálise?
S. Freud: Certamente. Neste momento estou trabalhando num caso muito difícil, tentando desatar os conflitos psíquicos de um interessante novo paciente.
Minha filha também é psicanalista, como você vê…
Nesse ponto apareceu Miss Anna Freud acompanhada por seu paciente, um garoto de onze anos, de feições inconfundivelmente anglo-saxonicas.
George Sylvester Viereck: O senhor já analisou a si mesmo?
S. Freud: Certamente. O psicanalista deve constantemente analisar a si mesmo. Analisando a nós mesmos, ficamos mais capacitados a analisar os outros.
O psicanalista é como o bode expiatório dos hebreus. Os outros descarregam seus pecados sobre ele. Ele deve praticar sua arte à perfeição para desvencilhar-se do fardo jogado sobre ele.
George Sylvester Viereck: Minha impressão, observei, é de que a psicanálise desperta em todos que a praticam o espírito da caridade cristão. Nada existe na vida humana que a psicanálise não possa nos fazer compreender. “Tout comprec’est tout pardonner”.
Pelo contrário! – bravejou Freud, suas feições assumindo a severidade de um profeta hebreu. Compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não e de maneira alguma um corolário do conhecimento.
Compreendi subitamente porque Freud havia litigado com os seguidores que o haviam abandonado, por que ele não perdoa a sua dissensão do caminho reto da ortodoxia psicanalítica. Seu senso do que é direito é herança dos seus ancestrais. Una herança de que ele se orgulha como se orgulha de sua raça.
Minha língua, ele me explicou, é o alemão. Minha cultura, mina realização é alemã. Eu me considero um intelectual alemão, até perceber o crescimento do preconceito anti-semita na Alemanha e na Áustria. Desde então prefiro me considerar judeu.
Fiquei algo desapontado com esta observação.
Parecia-me que o espírito de Freud deveria habitar nas alturas, além de qualquer preconceito de raças que ele deveria ser imune a qualquer rancor pessoal. No entanto, precisamente a sua indignação, a sua honesta ira, tornava o mais atraente como ser humano.
Aquiles seria intolerável, não fosse por seu calcanhar!,
Fico contente, Herr Professor, de que também o senhor tenha seus complexos, de que também o senhor demonstre que é um mortal!
Nossos complexos, replicou Freud, são a fonte de nossa fraqueza; mas com freqüência são também a fonte de nossa força.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

¡Arrepentíos! - Gustavo Dessal

La culpa es uno de esos elementos esenciales cuya ausencia o exceso provoca graves desajustes en los seres humanos. Una culpa excesiva puede hacer que alguien busque su propia destrucción, y un sujeto sin culpa es un instrumento apto para causar la destrucción de los otros.
 Los Picaos de San Vicente de la Sonsierra. www.turismoporlarioja.com
Los Picaos de San Vicente de la Sonsierra. www.turismoporlarioja.com
Las grandes religiones monoteístas han comerciado desde siempre con el sentimiento de culpabilidad, cuya manipulación es altamente eficaz y rentable para dominar a poblaciones y colectividades enteras. Pero contrariamente a lo que el pensamiento ácrata proclama, la culpa (como el dolor) es una función indispensable para la vida, necesaria para regular nuestros actos y medir las consecuencias que suponen en nuestros semejantes. Por eso la culpa está indisolublemente ligada al amor, a tal punto que no resulta extraño que la falta de uno traiga como consecuencia la falta de la otra, tal como podemos reconstruir en el estudio de las personalidades psicopáticas.
Pero lo más sorprendente es que la investigación psicoanalítica haya descubierto que la culpa no depende de la realización de un acto prohibido o de una transgresión a la ley. Mientras Freud indagaba en el abismo infernal de la melancolía, donde la culpa alcanza la intensidad del delirio y el enfermo se acusa de hechos que no ha cometido, otro gran genio recorría el mismo camino con otros medios. En El proceso, Kafka nos demuestra que el ser humano está atrapado en el sentimiento de una falta inconsciente, que su pecado es tan originario como desconocido, y que su crimen es inapelable. Joseph K. será ejecutado sin que en ningún momento los lectores podamos saber la naturaleza de su delito. Ni siquiera él lo sabrá, y aun así acabará entregando el cuello a su verdugo.
Anthony Perkins en un fotograma de la película 'El proceso' de Orson Welles
Anthony Perkins en un fotograma de la película 'El proceso' de Orson Welles
La culpa es esa misteriosa sustancia que no emana de ninguna realidad (prueba de ello es la escasa o nula culpa que las faltas reales provocan, por ejemplo, en nuestra cultura política contemporánea) sino que se destila en la profunda alquimia del inconsciente. Lo asombroso es que puede afectarnos de manera silenciosa, sin que seamos capaces de percibirla o tener de ella siquiera un signo o una intuición. Así, innumerables seres viven vidas atormentadas, se entregan a toda clase de acciones autopunitivas, se sumergen una y otra vez en al fracaso, empujados por un sentimiento de culpabilidad del que no tienen la más mínima sospecha y que, para colmo, no se fundamenta en ninguna transgresión real.
Esta característica de la condición humana ha sido exitosamente aprovechada por la Iglesia católica, que hizo de la confesión, el arrepentimiento y la penitencia una fabulosa empresa de lavado. No fueron necesarios demasiados siglos para que surgieran expertos en mercadotecnia que inventaron el upgrade de la confesión, una suerte de categoría premium en la cartilla del pecador: las indulgencias. Dado que la culpa ha de ser pagada, ¿por qué restringir los medios a las multas simbólicas de padrenuestros y avemarías? Del mismo modo que hoy usted tiene casi todas las aplicaciones para su smartphone en versión gratuita o de pago, por aquel entonces las indulgencias fueron algo así como las preferentes de la clase vip, a la que todo podía perdonársele.
Hoy en día el mensaje del arrepentimiento se transmite por canales más políticos que religiosos, y se nos quiere cargar con la culpa de esta falsa crisis atribuyéndola a nuestros excesos hipotecarios. Por supuesto, no falta tampoco en este caso el coro de idiotas, siempre listos en cualquier época, que repite la letanía de que hemos vivido por encima de nuestras posibilidades, y que ahora debemos lavar nuestra culpa en las aguas benditas del río ERE. Pero no es eso lo peor, sino que buena parte de la ciudadanía termine sucumbiendo a este mensaje, puesto que no hay nada más fácil de manipular que la culpa que todos llevamos dentro por el mero hecho de existir.
¿Puede haber algo más absurdo y condenable que ser una criatura humana, aspirante a buscar un sentido trascendente a una existencia que carece de todo propósito predefinido? Por esa razón, es fácilmente observable que la intensidad de la culpa es inversamente proporcional a la creencia que un sujeto tiene en la misión que le cabe en la vida. Anders Behring Breivik, el carnicero de Oslo, no se arrepiente de nada, porque se justifica en la realización de un proyecto supremo, del mismo modo que nuestros políticos no dimiten porque están convencidos de que la voluntad de salvar a la patria es la razón que los ha puesto en el mundo.
Por eso hay en el melancólico un enfermo que no ha hecho nada y sin embargo se declara culpable de toda clase de delitos imaginarios, una dignidad que echamos de menos en los personajes públicos que pasean su indecencia ante las cámaras de televisión y en los medios de prensa. El melancólico asume en toda su crudeza y fatalidad –y sin la más mínima defensa o protección– esa verdad originaria de que nuestra existencia está gobernada por el sinsentido y la ausencia de fundamento, para lo cual debemos disimularla lo mejor posible con nuestras obras.
Algunos lo han sabido disimular tan bien, que tomaron lo de la Obra al pie de la letra y por eso nos sobran casas y aeropuertos. Pero estos, como el de Oslo, tampoco se arrepienten de nada, porque ya se han apuntado a las indulgencias de Montoro.
Stéphane Hessel escribió ¡Indignaos!, y ahora Rajoy apresura la redacción de su ¡Arrepentíos!, con el que espera batir un récord de ventas y consolar a los desahuciados. Unos dicen que se lo ha escrito Punset, nuestro profeta nacional en materia de felicidad, otros creen que ha sido Bárcenas, y que el título es un claro mensaje para que sus camaradas no se pasen de listos. En cualquier caso, vivimos en el mejor país del mundo, donde pecar es casi gratis y además nadie se hace responsable. ¿Qué más podríamos pedir?
Carlos Fabra, político y empresario valenciano, Presidente de la Diputación de Castellón de 1995 a 2011
Carlos Fabra, político y empresario valenciano, Presidente de la Diputación de Castellón de 1995 a 2011

domingo, 7 de julho de 2013

“Probar el ser” con una cruel operación --- UN CASO DE TRANSEXUALISMO AL SERVICIO DE UNA IDEA DELIRANTE

A una joven que quiere transformar su sexo anatómico para obtener “la prueba de su ser”, una terapeuta le propone “hallar otra solución que no sea una operación tan cruel”.

Por Geneviève Morel *

Ven es una joven que quería que le pusieran una prótesis peneana y con la que tuve varias entrevistas meses antes de su partida al extranjero, prevista desde mucho tiempo atrás. Tenía el aspecto de un hombre joven y grácil, de rasgos delicados. Había concertado el encuentro con ese nombre de pila asexuado, pero me anunció de entrada que era una mujer, anatómicamente y según sus documentos, y que se sentía como un varón. Le habían aconsejado que consultara a un “psi” antes de la operación que le daría su “verdadero” cuerpo de hombre, y estaba a punto de empezar a tomar hormonas masculinas. Contaba con mi intervención en su favor ante los tribunales y los cirujanos, pero le advertí que yo no tenía influencia alguna ni sobre unos ni sobre los otros y que dudaba a priori de que una operación semejante pudiese resolver su problema. ¿Para qué le serviría entonces hablar conmigo –me replicó desilusionado–, si no podía ayudarlo a encontrar, gracias a la operación, “la prueba de su ser”, el pene que armonizara su cuerpo con su convicción íntima de pertenecer al sexo masculino? Para hallar otra solución a “la prueba de su ser” que no fuera una operación tan cruel, simplemente le contesté. Aceptando su travestismo, seguí hablándole en masculino, cosa que, por otra parte, había hecho espontáneamente desde el primer momento.
Su convicción no había sido al principio más que una impresión de extrañeza desde siempre, un curioso malestar por ser mujer. Pero una imagen que se había fijado en su memoria, uno de sus escasos recuerdos infantiles, era para él la matriz de la decisión de cambiar de sexo. A los seis años, Ven había visto a un chico orinar de pie. Pensó entonces que eso era lo que quería ser: un varón.
Recuerdo muy freudiano: a la vista del pene de un hermano o un compañero de juegos, dice Freud, “ella [la niña] juzgó y decidió. Vio eso, sabe que no lo tiene y quiere tenerlo”. ¿Qué se oculta detrás de ese recuerdo, de esa imagen tan trivial? ¿Una cadena significante reprimida y articulada con un recuerdo encubridor, que nos llevaría al complejo de castración femenino? ¿O más bien la forclusión de la significación fálica?
La historia de Ven se anuda de manera traumática con la de su país, que es el telón de fondo de ese recuerdo. Su padre era un alto funcionario, que tras un cambio de régimen político fue encerrado en un campo cuando Ven tenía tres años. Su madre, entonces, se quedó con su hijo, de dos años, y envió a su hija, Ven, a vivir con sus propios padres, con quienes ésta permaneció hasta los seis años, sin verla. Su padre se fugó entonces del campo, volvió enfermo junto a su mujer y llamó de inmediato a su hija, a quien adoraba. El sujeto no tiene ningún recuerdo de este período; recién aparecen a partir del regreso del padre, cuando tenía seis años y volvió a reunirse con su familia. En ese momento reencontró a la pareja formada por su madre y aquel a quien ella había elegido: su hermano.
La familia decidió huir a Francia, donde había estudiado el padre. Permanecieron un año en un campo de refugiados en el que las condiciones eran muy duras. El recuerdo del chico que orinaba de pie, acompañado de la convicción de Ven de que “quería ser” o “era” eso, según las variaciones de sus enunciados, data de ese año. Ven comenta esta imagen describiendo su doble sentimiento de molestia y reproche hacia su madre, que lo arreglaba coquetamente como una niña, y su envidia violenta hacia ese hermano, el preferido de ella.
Por eso hacemos de esta escena la matriz de su sexuación transexual. El regreso del padre, inicio literal de su historia pese a su carácter tardío, es una verdadera intrusión significante para el sujeto: éste no tiene un antes inscripto en su memoria, consciente o inconsciente. Es como una creación ex nihilo, un nacimiento, una especie de nominación, de reconocimiento por parte del padre a los seis años. Veremos que otros aspectos confirman este lugar casi divino del padre. Ese es también el momento en que el sujeto, nombrado, existe y puede elegir. Creemos además que el verdadero “trauma”, en el sentido psicoanalítico y freudiano del término, no fue, para esa criatura abandonada a los tres años, el horror del campo, sino el encuentro con la pareja madre-hijo que lo había rechazado. La imagen del niño orinando de pie se interpreta entonces como el yo ideal del sujeto, a saber, su “yo” completado por la imagen del pene que es la insignia del deseo de la madre, la razón, adivinada por la hija niña, de su elección. Esta imagen, marcada para siempre en su memoria como su propio acto de nacimiento, data del regreso del padre. Es ella que fija su sexuación y decide la convicción con respecto a su ser: él “es” esa imagen o está a punto de serlo, va a serlo. Vacilación, sensible en la enunciación de Ven, entre su yo y su yo ideal (el hermano). En ese “momento de insight configurante” que Lacan designó como estadio del espejo, el yo de Ven se identificó de manera alienante con ese otro, su hermano, en un cara a cara mortal: “O él o yo”. El otro, la imagen de enfrente, está siempre en posición de dominio: más segura, más derecha, poseedora de aquello que el sujeto no tiene. De allí la envidia, terrible por estar clavada a la imagen, no mediatizable por ninguna palabra, de Ven frente a ese hermano. Aunque la madre no figure en la imagen, es su verdadero sostén y forma parte de la escena: ante todo, es la que sabe cuál es el hijo que más importa de los dos que están frente a frente. Portadora de un amor cruel, será para Ven el modelo de la mujer que exige que tenga un pene y que se presentará sin cesar en su vida.
Certeza psicótica
Vacilé en cuanto al diagnóstico de estructura. A priori, el proyecto de un cambio de sexo, articulado con una certeza que se sabe claudicante en la neurosis, era de mal agüero. Y sin embargo yo dudaba: ¡La soltura de este sujeto en el mundo, su facilidad para pasar del masculino al femenino al hablar eran tan impresionantes! La formulación de su convicción, con las pequeñas variaciones de enunciación que acabamos de mencionar, me parecía en definitiva menos segura de lo que la había creído al principio. Consideraba muy metafórica su producción onírica y no podía desechar la hipótesis de un gran, apoyado en un fantasma construido a partir de las escenas traumáticas violentas de su infancia en el campo. En consecuencia, me tomé tiempo para cercionarme de que no se trataba de una histeria, sino de una psicosis.
Comprendí con más claridad, de resultas, por qué los transexuales lograban persuadir a los médicos y psiquiatras de que no eran psicóticos y de que su única desdicha consistía en haber nacido con el sexo equivocado. De allí el recrudecimiento, particularmente en Estados Unidos, de las operaciones de transexuales mujeres, aún poco frecuentes en la década de 1960, cuando Stoller publicó Sex and Gender. La diferencia stolleriana entre sexo anatómico e “identidad de género” psíquica referida a la conciencia íntima de pertenecer a un sexo y no al otro no es de gran ayuda conceptual. No obstante, los clínicos norteamericanos y la jurisprudencia, en especial en Francia, siguen apoyándose masivamente en ella.
Pero volvamos a Ven. Un primer punto en el que se constata cierta alteración de lo simbólico, concierne al padre y la ley. A su llegada a Francia, Ven tenía siete años. Como carecían de documentos, el padre tuvo que certificar por su honor la edad y el estado de civil de sus hijos. Muchos padres en esas circunstancias, me reveló Ven, ocultaban la edad de los hijos disminuyéndola, a fin de que no sufrieran un retraso escolar. Su padre era demasiado honesto para cometer un fraude. Pero, me dijo Ven fugazmente, habría bastado con que me inscribiera como de sexo masculino, como a mi hermano, para que “todo” hubiese cambiado.
Esta observación es extraña y resulta difícil no tomarla como un Wunsch, un deseo absurdo como aparece en los sueños. Se trata, más bien, del signo de una idea delirante. Ya hemos señalado que todo comenzó con el regreso del padre, cuyo deseo devolvía a Ven a su familia y lo despertaba a la memoria; despertar insoportable, sin ninguna duda, en el que se topó conlo real, como si saliera de la nada. El retorno del padre desencadenó la psicosis, que adoptó la forma del transexualismo a causa de la preferencia de la madre por el hermano, concretada por el recuerdo fijador del varón que orinaba de pie. Al padre se asoció la idea delirante de un poder de determinación del sexo, perceptible en esa frase. Es posible que esa idea datara de la llegada a Francia. Quizá se alimentó en la afirmación, que le transmitieron varias veces, de que el padre quería decididamente una niña como primer hijo. Pero existe la impresión de un deslizamiento, una puesta en continuidad por el discurso entre lo simbólico de la ley y lo imaginario del cuerpo al que se reduciría la anatomía. De un deseo del padre, cumplido al nacer (que fuera niña), se deduciría que el deseo o la palabra tienen fuerza de ley sobre la anatomía. Al llegar a Francia, la palabra del padre habría podido modificar no sólo el estado civil, inscribirla como varón, sino tal vez incluso, quién sabe, metamorfosear la anatomía de conformidad con la ley del ser de Ven. El padre, cual un dios, habría podido reparar así el “error de la naturaleza”, cuya responsabilidad le atribuye la idea delirante.

* Fragmento del libro Ambigüedades sexuales. Sexuación y psicosis, de reciente aparición (ed. Manantial).
http://www.pagina12.com.ar/diario/psicologia/9-4630-2002-05-04.html